A presidente Dilma Rousseff tem duas alternativas: ou mantém José Sérgio Gabrielli na presidência da Petrobras e incentiva a indisciplina e o trato da coisa pública como matéria privada ou o demite para demonstrar que existe uma hierarquia funcional e de valores na República. Afinal, o homem “Gabrielli” se encontra com quem quiser, sem dar satisfações a ninguém — eventualmente, à polícia se o conviva for um bandido. Já o presidente da Petrobras, em horário de expediente, tem de prestar contas de seus atos, sim. Está no cargo por vontade da presidente da República. Não é o entendimento do valentão.
Em entrevista ao site Bahia Notícias, ele afirmou que se encontra com o lobista José Dirceu quando e onde quiser, sem prestar satisfações a ninguém, nem à sua chefe: “Eu sou amigo dele [do José Dirceu] há 30 anos. Vou continuar encontrando com ele na hora que eu quiser e não tenho que dar satisfação nenhuma sobre isso.” Notaram? Não existe exceção para a expressão de altivez de Gabielli. Se a sua chefe, Dilma, lhe cobrar alguma coisa, ele responderá: “Você não tem nada com isso”. Parou por aí? Não! O presidente da Petrobras deixa claro que não reconhece a autoridade de Dilma desde quando ela era ministra. Talvez tenha dificuldade para ser chefiado por uma mulher. Por que digo isso? Leiam o trecho que transcrevo.
BN - Sempre se falou da sua relação conturbada com ela [Dilma]…
JSG - Não há relação conturbada. Nós somos duas pessoas que temos um respeito mútuo muito grande, do tempo que ela era do Conselho de Administração da Petrobras. Nós, que tínhamos alguns pontos de divergência, alguns pontos de convergência, sempre nos respeitamos muito. Tivemos posições diferentes. Hoje, ela é presidente da República. Não tenho nem que discutir com ela. Eu tenho que seguir as orientações da presidente da República.
JSG - Não há relação conturbada. Nós somos duas pessoas que temos um respeito mútuo muito grande, do tempo que ela era do Conselho de Administração da Petrobras. Nós, que tínhamos alguns pontos de divergência, alguns pontos de convergência, sempre nos respeitamos muito. Tivemos posições diferentes. Hoje, ela é presidente da República. Não tenho nem que discutir com ela. Eu tenho que seguir as orientações da presidente da República.
BN - Mas já houve discussões mais acaloradas com ela, não?
JSG - Já houve discussões acaloradas. Não é verdade o que publicam, de que eu chorei. É absolutamente mentirosa essa informação, mas ela já gritou comigo, e eu já gritei com ela, como duas pessoas bastante firmes nas suas opiniões. Agora, eu tenho uma enorme admiração pela presidenta Dilma e eu acredito que ela também tenha [por mim].
JSG - Já houve discussões acaloradas. Não é verdade o que publicam, de que eu chorei. É absolutamente mentirosa essa informação, mas ela já gritou comigo, e eu já gritei com ela, como duas pessoas bastante firmes nas suas opiniões. Agora, eu tenho uma enorme admiração pela presidenta Dilma e eu acredito que ela também tenha [por mim].
Voltei
Na melhor das hipóteses, embora isso não esteja absolutamente claro, entende-se que Gabrielli “gritou” com Dilma antes de ela ser presidente, ao tempo em que era do Conselho de Administração da Petrobras. Certo! Ocorre que ela não era “apenas” do conselho: ou era ministra das Minas e Energia — e, portanto, chefe de Gabrielli — ou era da Casa Civil e, portanto, chefe de Gabrielli também.
Na melhor das hipóteses, embora isso não esteja absolutamente claro, entende-se que Gabrielli “gritou” com Dilma antes de ela ser presidente, ao tempo em que era do Conselho de Administração da Petrobras. Certo! Ocorre que ela não era “apenas” do conselho: ou era ministra das Minas e Energia — e, portanto, chefe de Gabrielli — ou era da Casa Civil e, portanto, chefe de Gabrielli também.
Notem: a informação de que Dilma já fez o homem chorar não é nova. Por que ele fez o desmentido (e ele chorou, sim!) só agora? A resposta é simples: decidiu enfrentar a presidente da República e acha que tem cacife para isso. Gabrielli está sob pressão. Dilma já deixou claro que quer saber a agenda do hotel; quer que o presidente da Petrobras explique o que foi fazer no gabinete clandestino do sabotador da Eucaristia. Sua resposta de agora àquela com quem ele gritava antes: “Vou continuar encontrando com ele na hora que eu quiser e não tenho que dar satisfação nenhuma sobre isso.”
Há cálculo aí. Trata-se de uma guerra de posições no petismo. Dirceu saiu humilhado do 4º Congresso do PT. A presidente Dilma abortou a tal “moção de apoio” ao lobista. Também expressou seu desagrado com a patuscada armada pelo partido, que procurou colar a sua imagem à daquele apontado como “chefe de um esquema criminoso” pela Procuradoria Geral da República. Ele está furioso. Exceção feita ao subjornalismo dos áulicos, ninguém dá bola à sua versão. Então é preciso tensionar o jogo. E é aí que entra Gabrielli. A aposta é que ela engula o desaforo para não comprar briga com o partido.
JornalismoEm sua entrevista, afirmou Gabrielli sobre a reportagem de VEJA:
“Eu tenho que dizer que a matéria da Veja é um absurdo, uma especulação absurdamente inverídica, completamente sem fatos, somente ilações irresponsáveis. Portanto, a matéria da Veja é uma coisa criminosa do ponto de vista jornalístico. É isso que eu tenho para lhe responder.”
“Eu tenho que dizer que a matéria da Veja é um absurdo, uma especulação absurdamente inverídica, completamente sem fatos, somente ilações irresponsáveis. Portanto, a matéria da Veja é uma coisa criminosa do ponto de vista jornalístico. É isso que eu tenho para lhe responder.”
Não há ilação nenhuma na reportagem. Nem especulação. Há fatos. “Crime jornalístico”? O PT quer o “controle da mídia” para caracterizar em lei essa modalidade. Os petistas não aceitam a fiscalização da sociedade. Acreditam que ganham nas urnas o direito de se comportar como ditadores.
Gabrielli pode até gritar com Dilma e continuar empregado. Mas não vai gritar com o estado de direito e com a democracia. Não vai porque nós estamos aqui.
Gabielli, ouça aqui: “Não, você não pode!” E vai ter de dar satisfação, sim! Se a sua chefe não cobrar, cobra-o a sociedade, chefe de sua chefe.
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