sábado, 10 de setembro de 2011

Pra cima com a viga, moçada! Vocês são os melhores repórteres e os melhores analistas de seu próprio tempo.

É incrível!
A ausência de bandeiras vermelhas nos protestos contra a corrupção deixou alguns analistas desorientados. É notória a má vontade com que tratam o movimento, como se ele já nascesse marcado pela suspeição. Afinal, se as tais bandeiras não estão lá para assegurar que aqueles que se manifestam, ainda que possam ser um tanto equivocados, são pessoas de bem, logo surge a suspeita de que tudo não passe de um desses “moralismos” da tão odiada — por alguns colunistas de jornal — classe média, que é quem compra… jornal (ainda que na versão eletrônica). Esses caras adoram escarrar na boca daqueles que os beijam… A impressão que dá é que não podem levar a sério gente que os lê — é uma variante do marxismo da linha grouchista…
Já demonizaram um movimento uma vez, o tal “Cansei”, que protestava contra a corrupção, os desmandos e a incompetência. A alegação é que havia no meio alguns ricos e colunáveis… Segundo entendi, ricos e colunáveis podem se filiar ao PT, e os há aos montes, mas não protestar contra o PT. Uma atitude é “progressista” e encanta; a outra, reacionária. Agora, há uma certa ansiedade para saber quem está indo às ruas. A atitude é de prudência. Nada que possa ser confundido com apoio! Nunca! O maior temor da esquerda é se sentir superada por algum movimento fora de seu controle.
Fico, realmente, muito impressionado. QUEREM, COM UMA CURIOSIDADE SOCIOLÓGICA QUASE POLICIAL, SABER QUEM SÃO ESTAS PESSOAS QUE ESTÃO INDO ÀS RUAS, MAS NÃO QUEREM SABER POR QUE ELAS ESTÃO INDO ÀS RUAS.
A razão da suspicaz hesitação e da pergunta errada é uma só: caso não considerem os manifestantes “progressistas” o bastante, então os motivos deixam de ser importantes. Essa gente pode conviver com corruptos, mas jamais com “direitistas” ou com quem não tem os teores mínimos exigidos de esquerdismo.
Isso tem história. Indivíduos que não pertençam a uma das corporações de ofício da sociedade da reclamação e da mobilização simplesmente NÃO EXISTEM! Ora, não foi esse escriba que lembrou aqui dia desses que um dos países do mundo que mais torturam presos comuns — O BRASIL! — já torrou quase R$ 5 bilhões para indenizar vítimas (bem poucas) e supostas (a esmagadora maioria) vítimas da ditadura? Usei, então, a expressão “presos sem pedigree”. É isto: o Brasil é um país livre da tortura de presos com pedigree. Quem liga para os outros? No fundo, esses “humanistas” não dão a menor pelota se um ser humano está ou não sendo seviciado. Eles não aceitam é a tortura de seus aliados. Não aceitam é que se torturem as pessoas erradas…
Algo similar se vê agora com os protestos contra a corrupção. Faltaram o pedigree esquerdista — as bandeiras vermelhas — e a tal pauta de libertação dos oprimidos de manual. Parece-lhes insuportável que pagadores de impostos tenham a audácia de se manifestar. Em vez de gritar em nome da “igualdade” — afinal, quem é contra ela? —, cobram o cumprimento da lei; em vez de exigir privilégios sob o pretexto de compensações históricas, exigem, esta sim, igualdade perante a lei. Não! isso lhes parece suspeito demais!
Recomendo àqueles que estão dispostos a levar adiante a sua indignação que não se deixem intimidar pela patrulha, que resistam à onda de desqualificação, que dêem uma solene banana para os esbirros do oficialismo. As televisões praticamente esconderam a grande manifestação de Brasília, e os filmes do protesto, no entanto, já se multiplicaram aos milhares na rede. Hoje em dia, decretos de invisibilidade perderam a eficácia.
Pra cima com a viga, moçada! Vocês são os melhores repórteres e os melhores analistas de seu próprio tempo.
Por Reinaldo Azevedo

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