“O Brasil teve que esperar mais de 150 anos para que um presidente cumprisse a promessa que Dom Pedro II fez”, começou a gabar-se o presidente Lula já em 2003, quando comunicou à nação que resolveria o problema das secas no Nordeste com a transposição das águas do Rio São Francisco. Em 14 de dezembro de 2010, o palanque ambulante visitou São José de Piranhas para festejar o ritmo das obras do túnel Cuncas I, com 15 quilômetros de extensão, que liga essa cidade paraibana a Mauriti, no Ceará.
“Cada vez que vocês olharem esse canal”, cumprimentou-se no comício, “vocês irão lembrar que em 1847 Dom Pedro tentou fazer esse canal, ele era imperador do Brasil e não deixaram ele fazer”. Para que não restassem dúvidas, marcou data para a consumação de mais um milagre operado pelo PAC: “Estou percebendo que a obra vai ser inaugurada definitivamente em 2012. A não ser que aconteça um dilúvio, qualquer coisa”.
Não houve nenhum dilúvio, nem se sabe o que aconteceu, mas é melhor esperar sentado, acaba de avisar o desabamento parcial da maravilha sertaneja celebrada por Lula. Ocorrido no dia 21, quinta-feira passada, o acidente no Cuncas I acaba de ser revelado pelo site do Estadão. Forçado a comentar o que tentou esconder durante uma semana, com a cumplicidade das empreiteiras premiadas nas licitações, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, encarregou a assessoria de imprensa de explicar o que houve.
Segundo a nota divulgada nesta quinta-feira, a causa do deslizamento de terra na entrada do túnel foi “a consistência não uniforme do solo encontrado naquele ponto”. Tão clara quanto uma discurseira de Dilma Rousseff, tão verdadeira quanto uma promessa de Lula, a justificativa só reforça a suspeita de que, caso as obras obedeçam ao padrão PAC de eficiência e agilidade, as águas do São Francisco continuarão onde estão por mais 150 anos
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