sábado, 16 de outubro de 2010

“Tirem esse Deus daí! Deus e reacionário! Progressista é o discurso estatista!”

Por Reinaldo Azevedo
Há um clamor dos “progressistas”: “Tirem esse Deus daí! Deus é reacionário!” Sei. Salvo a frase “nem Jesus Cristo me tira essa eleição” — que parece não ter sido dita por Dilma Rousseff —, todo o resto que se afirma sobre a candidata é verdade: ela defendeu a legalização do aborto até, pelo menos, abril do ano passado e jamais teve certeza sobre a existência de Deus — a menos que o avião balançasse. Não há mentira nisso.

“Ah, mas Deus não é importante porque, afinal, o estado é laico etc e tal”. Uma ova! Governantes podem arbitrar sobre assuntos concernentes à religião. E é preciso saber o que eles pensam. Um presidente favorável ao aborto pode facilitar a sua legalização, ora! Então será preciso mandar os cristãos de volta para as cavernas, para que não opinem? O “estado laico” irá condená-los a ficar desenhando peixes da areia? Qual é? Reacionário é querer impedir o debate.

O que não fica claro numa posição como essa é que se dá de barato que o aborto é, em si, uma expressão do progressismo. Digam-me cá, senhores laicistas: por que as manifestações religiosas pró-Dilma não foram consideradas, igualmente, uma intromissão indevida da religião na política? Impróprio é manifestar-se apenas contra?

Ora vejam: falar a verdade sobre Dilma e temas afeitos à religião — e à moral — vira manifestação do atraso. Mas nada se diz sobre a campanha mentirosa que o PT leva ao ar, atribuindo aos tucanos a intenção de privatizar a Petrobras. Além de ser, obviamente, uma fantasia, temos aí ressuscitada a tese das virtudes do estatismo contra a livre iniciativa. E isso, sim, está na raiz de muitas das nossas infelicidades como país.

Esquecemo-nos que boa parte das nossas misérias e do nosso atraso está na gigantesca máquina do estado, que suga recursos da sociedade que, não raro, são, aí sim, “privatizados” por espertalhões — alguns deles até disfarçados de empresários. Cria-se uma sociedade “estato-dependente”, transformando o estatismo num valor em si. Olhem a barafunda dos Correios. A própria Petrobras, mesmo sendo uma empresa, vá lá, mista, tornou-se um universo paralelo, que nem Lula tem coragem de chamar de “transparente”.

Não! Sobre isso, não se diz uma vírgula. Nada sobre este “atraso”. Olhem aqui: ainda que debater as opiniões de Dilma sobre o aborto fosse mesmo uma regressão política — o que é besteira —, seria uma regressão dada a partir de uma verdade insofismável. A regressão do estatismo, ao contrário, é fabricada sobre uma mentira.

Mas, sobre isso, os pudorosos não dirão uma palavra!

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