11/05/2012
às 17:05
O grupo JBS já definiu o novo presidente da Delta, enquanto aguarda uma “rigorosa auditoria” (ver post abaixo)? Sei…
Há coisas
que são, em si, inexplicáveis, por mais que se tente dar nó no verbo.
Uma delas é essa compra, a toque de caixa, da Delta pelo grupo JBS, de
que o BNDES — você, leitor amigo, orgulhe-se! — detém 31,4% das ações. O
Brasil, reza velho adágio, não é para amadores. Da noite para o dia,
todos seremos sócios da construtora de Fernando Cavendish. As farras em
Paris são dele; os problemas da sua empresa serão nossos!
Por que é, em si, inexplicável todo esse procedimento? A resposta é simples: a
auditoria nos contratos que a Controladoria Geral da União mandou fazer
é para valer, ou tudo não passa de mais uma tática de despiste para
passar a impressão de que algo está sendo investigado?
Venham cá: e se a Controladoria não gostar do que encontrar, como parece (ou parecia…) ser o mais provável? Isso significa que o BNDES será sócio de uma empresa considerada inidônea? Não
se vai esperar nem o parecer da CGU? Ou, pior do que isso, já se tem o
parecer da CGU antes mesmo que se conclua a apuração dos fatos?
Pior ainda:
em tese, ninguém sabe que complicações poderiam advir para a Delta de
uma CPI em andamento. Que a construtora está enrolada com Carlinhos
Cachoeira, eis uma evidência, não é matéria de julgamento. Então o grupo
JBS, tendo o BNDES como sócio, entra numa dessa sem saber o que vem
pela frente na comissão? Ou, para arremate dos males, já tem o
compromisso dos governistas de que a Delta será preservada na
investigação?
Não é mesmo
um escândalo que, dado um quadro como esse, alguns senhores, fingindo-se
de vetustos moralizadores, queiram investigar a imprensa, que,
COMPROVADAMENTE, não fez nada de errado?
O governo
lulo-petista resolveu ir fundo no capitalismo de estado. Quem sabe, um
dia, setores independentes da academia — não, claro, naquele ambiente em
que Aloizio Mercadante vira doutor com uma “tese” para aplaudir Lula
(vergonha acadêmica alheia!!!) — decidam estudar esse modelo… O que faz,
afinal de contas, o BNDES com quase um terço das ações da JBS? Investe
no “desenvolvimento econômico e social” do país? Não! Atua para
consolidar uma elite dirigente no poder. Para tanto, ela precisa ter
“capacidade de intervenção”, como agora se vê.
O governo
tenta fingir distância do imbróglio, mas esse discurso foi desmoralizado
por José Batista Júnior, um dos donos da JBS. Chamou, em entrevista à
Folha, esse suposto distanciamento de “conversa de bêbados” e deixou
claríssimo que o Planalto acompanha, sim, tudo de perto. Darei um salto
interpretativo, e vocês avaliem aí se estarei sendo arbitrário: é
evidente que ele está afirmando que só fará negócio se tiver garantias
oficiais.
Há muito
tempo não vejo uma traficância feita a céu tão aberto. A justificativa é
nobre: “Precisamos cuidar dos 30 mil empregos…” Balela! Como as obras
são públicas e precisam ser tocadas, se os empregados saíssem da Delta,
iriam para outra construtora ou empreiteira. Estamos, isto sim, é
constatando que porcaria é termos um “estado-patrão”. Seus controladores
da hora, o governo, fazem o que bem entendem, sem dar satisfações a
ninguém.
Está na hora
de a imprensa fazer uma grande reportagem-balanço sobre os
megaganhadores da era lulo-petista, identificando quanto a sua
consolidação ou crescimento custaram aos cofres públicos. Esse período
transferiu, certamente, alguma renda aos muito pobres, como está dado —
processo que vem de longe. Mas ninguém levou tanto como os muito ricos.
Chegou a hora de identificar quem são os “lulo-burgueses”.
Cumpre não
esquecer: quando a Oi comprou a Brasil Telecom, de Daniel Dantas —
contra a Lei Geral de Telecomunicações —, Lula determinou que o BNDES
financiasse a operação antes mesmo que ela fosse legal. A lei permitindo
a compra foi mudada só depois do acordo entre as partes. Foi ali que
cravei a máxima sobre o capitalismo à moda petista: no mundo
democrático, os negócios são feitos de acordo com a lei; no Brasil
petista, as leis são feitas de acordo com os negócios.
O petismo
prometeu revolucionar o capitalismo. Está cumprindo a promessa: sob a
sua gerência, o modelo está virando um “negócio de famiglia“.
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