Comecemos
do começo: quem ganha a eleição quer governar. É a regra do jogo! No
mundo inteiro, presidentes e primeiros-ministros nomeiam pessoas de sua
base política para cargos de confiança. Então o que há de errado com o
Brasil? Um monte de coisa. Em primeiro lugar, o número de cargos que são
da livre escolha de quem governa: mais de 24 mil só no governo federal —
fora as autarquias, estatais, fundos de pensão de empresas púbicas etc.
Vamos comparar? Nos EUA, há 9 mil — já é um escândalo! No Reino Unido,
são 300; na Alemanha, 170. É evidente que esses países têm, portanto,
uma primeira barreira — estabelecida pela própria legislação — que
dificulta o assalto aos cofres públicos, além, claro!, da rigidez da lei
com quem é pego com a boca na botija.
Os petistas,
é verdade, herdaram essa legislação de governos passados. Tentaram
corrigi-la? Ao contrário: aumentaram o número de cargos de confiança! E
ainda lamentaram as privatizações feitas pelo governo FHC. Afinal,
imaginem quantos companheiros deixaram de ser empregados nas
telefônicas, na Vale, na Embraer, nas empresas elétricas etc.
Assim, até
que não se reduza drasticamente esse número de cargos de confiança,
dificilmente a administração será realmente profissionalizada, e a
política, moralizada. Legendas se grudam a este ou àquele candidato não
para ver implementadas as suas teses, a sua visão de mundo, as suas
propostas. Querem cargos. O senador Blairo Maggi (PTB-MT) foi de uma
sinceridade quase angelical e pôs a nu o sistema. Em outras palavras,
disse o seguinte: “Temos sete senadores e nenhum ministério; se o
governo quer os nossos votos, tem de nos dar a compensação; é assim que o
modelo funciona”. E ele estava mentindo?
Já perguntei
em outro texto e indago de novo: por que um partido faz tanta questão
de ter a diretoria financeira de uma estatal? É evidente que esses
milhares de agentes partidários que tomam a administração vão se
encarregar, no poder — e lindando com dinheiro público — do
fortalecimento dos esquemas que representam. O povo que se dane!.
Ministérios, estatais, autarquias etc. servem aos partidos como fonte
de caixa — além, como se sabe, de atrair notórios ladrões.
Partidos
Essa ocupação do estado por partidos induz, é evidente, a formação de… partidos! Grupos se organizam, então, para criar legendas porque sabem que isso lhes dará poder de negociação. Existem 29 partidos legalizados no país. Há ainda alguns com registro apenas em TREs. Há nada menos de 32 outros em formação. Sei que vem chiadeira, mas é fato: esse número é evidência de atraso político e sinal de que alguma coisa errada está em curso. As grandes democracias do mundo ou são, na prática, bipartidárias ou contam, no máximo, com uma terceira força. Sim, queridos, se vocês forem pesquisar, encontrarão uma lista imensa de legendas de papel nos EUA — passam de 70! Veem-se bizarrices como o Partido Multiculturalista de Illinois e o Partido da Escolha Pessoal. Mas só dois têm condições de chegar ao poder; na Alemanha, três. Nas democracias organizadas, inexistem essas legendas com força para chantagear o governo em razão do tal “presidencialismo de coalizão”. É bem verdade que Republicanos e Democratas têm, cada um segundo seus marcos, as suas respectivas alas direita e esquerda e o centro. Mas os ministérios — ou secretarias — não são loteados segundo essa lógica.
Essa ocupação do estado por partidos induz, é evidente, a formação de… partidos! Grupos se organizam, então, para criar legendas porque sabem que isso lhes dará poder de negociação. Existem 29 partidos legalizados no país. Há ainda alguns com registro apenas em TREs. Há nada menos de 32 outros em formação. Sei que vem chiadeira, mas é fato: esse número é evidência de atraso político e sinal de que alguma coisa errada está em curso. As grandes democracias do mundo ou são, na prática, bipartidárias ou contam, no máximo, com uma terceira força. Sim, queridos, se vocês forem pesquisar, encontrarão uma lista imensa de legendas de papel nos EUA — passam de 70! Veem-se bizarrices como o Partido Multiculturalista de Illinois e o Partido da Escolha Pessoal. Mas só dois têm condições de chegar ao poder; na Alemanha, três. Nas democracias organizadas, inexistem essas legendas com força para chantagear o governo em razão do tal “presidencialismo de coalizão”. É bem verdade que Republicanos e Democratas têm, cada um segundo seus marcos, as suas respectivas alas direita e esquerda e o centro. Mas os ministérios — ou secretarias — não são loteados segundo essa lógica.
Então cabe
uma pergunta: por que o Brasil conta com tantos partidos — uns 10 — com
poder de fogo real para criar dificuldades para Executivo e lhe vender
facilidades? Por causa, se quiserem saber, do paternalismo da
legislação. Poucos se lembram, mas é fato: uma vez legalizado, o partido
já passa a ter acesso a um fundo, que é dinheiro público. Vira
cartório! Ganha o direito também ao horário político gratuito, e lá
vemos a TV ser invadida por aqueles senhores de cabelo acaju e bigodes
mais negros do que as asas da graúna a dizer sandices.
E há o mais
perverso dos fatores de desestruturação da vida político-partidária: o
horário eleitoral gratuito. Trata-se de uma excrescência autoritária e
cara. Nada tem de gratuito porque as emissoras são compensadas. Sob o
pretexto de dar uso público a uma concessão também pública (os rádios e
as TVs), cria-se o riquíssimo mercado da venda do horário de TV. O PMDB
não custa tão caro a cada eleição porque os candidatos estão
interessados em seu, sei lá como chamar, aporte ético! Sim, o partido
está organizado no país inteiro, tem uma enorme rede de influência e
tal, mas o que se busca mesmo são os seus preciosos minutos.
Outro viés da crise
Isso tudo torna o ambiente político quase irrespirável. Esses elementos estão na raiz da crise vivida pela presidente Dilma. Neste ponto, alguém poderia perguntar: “Mas não é assim com todo mundo? Por que essa barafunda agora? Já não era assim nos governos Lula e FHC?” Vamos ver.
Isso tudo torna o ambiente político quase irrespirável. Esses elementos estão na raiz da crise vivida pela presidente Dilma. Neste ponto, alguém poderia perguntar: “Mas não é assim com todo mundo? Por que essa barafunda agora? Já não era assim nos governos Lula e FHC?” Vamos ver.
É claro que FHC distribuiu cargos também — no seu último ano de governo, eram 18.374; a companheirada achou pouco! O PT é tão autoritário, tem tal viés totalitário, que desestabiliza mesmo o sistema de loteamento.
Os peemedebistas, do ponto de vista da lógica desse sistema perverso,
têm razão de reclamar: os seus “parceiros” estão sempre nos seus
calcanhares. Um peemedebista até pode estar no comando de uma pasta, mas
o segundo escalão é quase sempre ocupado pela turma da estrela. E há,
escrevi ontem a respeito, a incompetência pura e simples. Com Lula, a
chance de crispação era menor porque ele tinha o que Dilma não tem:
domínio da máquina partidária. Bastava um peemedebista reclamar de
alguma inconveniência dos petistas, e o chefão dava um jeito. Dilma
manda no PT menos do que eu…
Encerrando
Por isso, é uma bobagem essa história de que a base aliada está rebelada porque Dilma está tentando moralizar o poder. Aliás, em algum lugar, li que Fernando Haddad teria se saído com essa. A ser assim, está dizendo o quê? Lula optava pela imoralidade? O caso é bem outro. O petismo piorou o que já era perverso: um país que tem esse número de cargos de confiança — imaginem se contarmos todos os governos estaduais, todas as prefeituras, estatais e autarquias não-federais… — está pedindo para ser assaltado e estimulando a pistolagem partidária. Na gestão desse modelo, Dilma está perdida porque não conseguiu controlar os “companheiros”, que não aceitam dividir o butim, conforme o combinado.
Por isso, é uma bobagem essa história de que a base aliada está rebelada porque Dilma está tentando moralizar o poder. Aliás, em algum lugar, li que Fernando Haddad teria se saído com essa. A ser assim, está dizendo o quê? Lula optava pela imoralidade? O caso é bem outro. O petismo piorou o que já era perverso: um país que tem esse número de cargos de confiança — imaginem se contarmos todos os governos estaduais, todas as prefeituras, estatais e autarquias não-federais… — está pedindo para ser assaltado e estimulando a pistolagem partidária. Na gestão desse modelo, Dilma está perdida porque não conseguiu controlar os “companheiros”, que não aceitam dividir o butim, conforme o combinado.
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