O ex-presidente Lula ultrajou os
jornalistas brasileiros, ao apontar supostas influências dos anunciantes
no conteúdo editorial. A tese é do professor Eugênio Bucci,
ex-presidente da Radiobrás, durante o governo Lula. Leia seu artigo na
revista Época:
A lógica desastrosa de Lula sobre a imprensa - EUGÊNIO BUCCI
Há coisa de dez dias, em Paris, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou dos jornais. De novo.
"Quando político é denunciado, a cara dele sai noite e dia nos jornais",
disse ele. Na sequência, lançou uma acusação baixa contra a imprensa:
"Vocês já viram banqueiro nos jornais? São eles que pagam as
publicidades da mídia". Segundo Lula, os anunciantes estão a salvo das
reportagens investigativas, pois os repórteres e os editores não têm a
dignidade de apurar os fatos e de publicá-los com um grau mínimo de
independência crítica.
Claro: os jornalistas de brio,
honrados, foram ultrajados por ele. O interessante é que quase ninguém
se deu ao trabalho de responder à ofensa. Por que será?
Existe uma explicação. Essa
história de político falando mal dos jornais e das revistas já se
banalizou. Virou uma epidemia. Lula não é o único, embora seja dos mais
reincidentes. Há cerca de dois meses, no final da campanha municipal, em
São Paulo, o então candidato a prefeito José Serra (PSDB) deu de acusar
os repórteres que formulavam perguntas incômodas (na opinião dele) de
ser agentes de "pautas petistas". Ao desqualificar os profissionais que
cumpriam seu dever de perguntar, procurava se esquivar das indagações e,
em parte, foi bem-sucedido na manobra. Lula, outra vez, lança mão do
mesmo truque. Quando lhe cobram explicações sobre os escândalos de seu
partido, investe contra a reportagem. Como ele fala isso a toda hora,
seus vitupérios já não chamam a atenção. Deixaram de ser notícia. Daí
que os próprios jornalistas não se dão ao trabalho de responder.
Desta vez, porém, uma resposta não
pode faltar. O julgamento de Lula está baseado em quatro grandes
mentiras, que desinformam a sociedade e podem induzir a enganos
desastrosos. Por isso, tratemos de pôr as coisas a limpo.
Primeira mentira. Não é verdade
que a imprensa não publica reportagens que incomodam banqueiros. Você,
leitor, há de se lembrar. Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos; Luís
Octávio índio da Costa, do Banco Cruzeiro do Sul; Salvatore Cacciola, do
Banco Marca; Silvio Santos, do Banco Panamericano; Katia Rabello, do
Banco Rural; Ricardo Guimarães, do Banco BMG; entre outros, muitos
outros, também se lembram muito bem.
Segunda mentira. Não é verdade que
os bancos privados são os maiores anunciantes do Brasil. Segundo um
levantamento do anuário Mídia Dados, o Bradesco investiu, em 2011, R$
905 milhões em publicidade. É muito dinheiro. Mas atenção: a Caixa, que
pertence ao governo federal, investiu mais que o Bradesco: R$ 1,092
bilhão. E os dois maiores anunciantes privados do país em 2011 não têm
nada a ver com bancos: Casas Bahia (R$ 3,3 bilhões) e Unilever (R$ 2,6
bilhões).
Terceira mentira. Não é verdade
que qualquer acusação contra político vira manchete assim sem mais nem
menos. A imprensa erra, claro que erra, deve ser criticada com rigor -
mas a imprensa não é uma instituição corrupta, vendida. Nos escândalos
recentes (mensalão etc), acertou muito e ajudou a flagrar os bandidos de
colarinho branco.
Quarta mentira. Não é verdade que
os anunciantes saem sempre bem na foto. Se assim fosse, nenhuma revista,
nenhum jornal, ninguém falaria mal dos governos (federal e estaduais),
que anunciam bem mais que os banqueiros privados. Já vimos que a Caixa é
um anunciante mastodôntico, assim como o Banco do Brasil (R$ 587
milhões em 2011), e, não obstante, alguns de seus dirigentes andaram
frequentando o noticiário. Somente o ministério da educação, segundo
estimativas do mesmo Mídia Dados, veiculou anúncios no valor de R$ 298
milhões em 2011 - e nem por isso está a salvo de críticas. Essas quatro
grandes mentiras põem em marcha uma lógica desastrosa. Nos dois governos
de Lula, os gastos de dinheiro público em publicidade se mantiveram em
crescimento. Hoje, o governo federal, com suas estatais, é um dos
maiores anunciantes do mercado. Agora que sabemos que, na opinião de
Lula, os jornalistas são comprados pelos anunciantes, é o caso de
perguntar: com que propósito o governo gasta fortunas em comunicação?
Será que pretende comprar jornalistas? Será que os anúncios
governamentais são uma tentativa de suborno?
Cuidado. Não caia em embromação. A
imprensa pode perfeitamente brigar com os anunciantes, sejam eles
estatais, governamentais ou privados. Ela pode até perdê-los. O que ela
não pode perder é a confiança do leitor, a sua confiança, que vale mais
que banco, mais que ouro. A boa imprensa, aquela que realmente conta, é
refém apenas da verdade. Não cede ao dinheiro do anunciante nem aos
gritos dos políticos.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Dez anos se passaram e o Cadáver de Celso Daniel continua a assombrar o PT
PUBLICADO EM 30 DE JANEIRO
Entre o fim de janeiro e meados de março de 2002, investigadores da Polícia Federal encarregados de esclarecer o assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André, gravaram muitas horas de conversas telefônicas entre cinco protagonistas da história muito mal contada: Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, suposto mandante do crime, Ivone Santana, viúva da vítima, Klinger Luiz de Oliveira, secretário de Serviços Municipais de Santo André, Gilberto Carvalho, secretário de Governo, e Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado-geral do PT. Todos sabiam da existência da fábrica de dinheiro sujo instalada na prefeitura para financiar campanhas do partido.
As 42 fitas resultantes da escuta foram encaminhadas ao juiz João Carlos da Rocha Mattos. Em março de 2003, pouco depois da posse do presidente Lula, Rocha Mattos alegou que as gravações haviam sido feitas sem autorização judicial e ordenou que fossem destruídas. Em outubro de 2005, condenado à prisão por venda de sentenças, o juiz revelou a VEJA (confira a reportagem na seção Vale Reprise) que os diálogos mais comprometedores envolviam Gilberto Carvalho, secretário-particular de Lula entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010 e hoje secretário-geral da Presidência da República. “Ele comandava todas as conversas, dava orientações de como as pessoas deviam proceder. E mostrava preocupação com as buscas da polícia no apartamento de Celso Daniel”.
Em abril de 2011, depois de ter cumprido pena por venda de sentenças, Rocha Mattos reiterou a acusação em escala ampliada. “A apuração do caso do Celso começou no governo FHC”, afirmou. “A pedido do PT, a PF entrou no caso. Mas, quando o Lula assumiu, a PF virou, obviamente. Daí, ela, a PF, adulterou as fitas, eu não sei quem fez isso lá. A PF apagou as fitas, tem trechos com conversas não transcritas. O que eles fizeram foi abafar o caso, porque era muito desgastante, mais que o mensalão. O que aconteceu foi que o dinheiro das companhias de ônibus, arrecadados para o PT, não estava chegando integralmente a Celso Daniel. Quando ele descobriu isso, a situação dele ficou muito difícil. Agentes da PF manipularam as fitas de Celso Daniel. A PF fez um filtro nas fitas para tirar o que talvez fosse mais grave envolvendo Gilberto Carvalho”.
Escaparam da queima de arquivo algumas cópias que registram diálogos desidratados dos trechos com altíssimo teor explosivo. Ainda assim, o que se ouve escancara a conspiração forjada pelos grampeados para bloquear o avanço das investigações e enterrar o caso na vala dos crimes comuns. Somadas, as vozes revelam a alma do bando de comparsas que, em vez de indignar-se com a execução brutal de Celso Daniel, só pensa em livrar da cadeia o companheiro Sombra e, simultaneamente, livrar-se do abraço de afogado do suspeito decidido a afundar atirando. Vale a pena conferir seis áudios resgatados pela coluna. Os diálogos gritam que os donos das vozes se juntaram para impedir o esclarecimento de um crime gravíssimo.
Áudio 1
Luiz Eduardo Greenhalgh diz a Gilberto Carvalho que é preciso evitar que João Francisco, um dos irmãos de Celso Daniel, “destile ressentimentos” no depoimento que se aproxima. “Pelo amor de Deus, isso é fundamental!”, inquieta-se Carvalho.
Áudio 2
Um interlocutor não identificado elogia Ivone Santana pela entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo e incentiva a viúva a repetir a performance no programa de Hebe Camargo. Alegre, a viúva informa que vai fazer o reconhecimento das roupas da vítima. Do outro lado da linha, a voz pergunta como “o cara” estava vestido. O cara é o marido de Ivone morto dias antes.
Áudio 3: À beira de um ataque de nervos, Sombra cobra de Klinger um imediata operação de socorro. Sobressaltado com o noticiário jornalístico, exige que Gilberto Carvalho trate imediatamente de “armar alguma coisa”.
Áudio 4: Klinger diz a Sombra que Gilberto Carvalho está preocupado com o teor do iminente depoimento do companheiro acusado de ter ordenado a morte do prefeito. Sugere um encontro entre os três para combinar o que será dito. No fim da conversa, os parceiros comemoram a prisão de um suspeito.
Áudio 5: Gilberto Carvalho cumprimenta Ivone Santana pela boa performance em entrevistas e depoimentos. Carvalho acha que as declarações mudarão o rumo das investigações.
Áudio 6: A secretária de Klinger transmite a Gilberto Carvalho rumores segundo os quais a direção nacional do PT pretende manter distância do caso “para não respingar nada”. Carvalho nega e encerra o diálogo com uma observação ambígua: é nessas horas que se percebe quem são os verdadeiros amigos.
Em vez de exigir o esclarecimento da morte do amigo, Gilberto Carvalho resolveu matar as investigações no nascedouro. Por que agiu assim? Ele poderá responder também a essa pergunta na entrevista ao site de VEJA.
Um mês depois de revelado o escândalo, Lula continua fugindo de perguntas sobre o caso Rose. Logo saberá que é impossível escapar de quadrilheiras de estimação
26/12/2012
às 14:22 \ Direto ao Ponto
O berreiro dos
cardeais, os uivos dos apóstolos, a choradeira dos devotos, as
lamentações das carpideiras ─ nada disso vai adiantar. Nenhuma espécie
de chilique da seita lulopetista impedirá que o mestre seja obrigado a
quebrar a mudez malandra. Desde 23 de novembro, quando a Operação Porto
Seguro tornou nacionalmente conhecida uma certa Rosemary Noronha, Lula
foge de comentários sobre a quadrilheira de estimação. O silêncio que
começou há mais de um mês pode até estender-se por duas, três semanas. A
trégua do Ano Novo ajuda. Mas o ex-presidente não escapará da hora da
verdade.
A menos que todos os jornalistas resolvam perder definitivamente a voz, o homem que nunca sabe de nada será confrontado com perguntas e cobranças que exigirão álibis menos bisonhos e respostas mais criativas. Se repetir, por exemplo, que se sente “apunhalado pelas costas”, Lula se arriscará a ouvir de volta uma desmoralizante gargalhada nacional. Se confirmar que “não se surpreendeu” com o que houve, como balbuciou em Berlim, terá de ser menos ambíguo: não se surpreendeu com as gatunagens de Rose, com o atrevimento do bando, com a eficiência da Polícia Federal ou com o quê?
O colecionador de escândalos já deveria ter aprendido que nenhuma patifaria de grosso calibre deixa de existir ou fica menor só porque o protagonista da história finge ignorá-la. Atropelado pelas apurações da PF, passou as duas primeiras semanas enfurnado no Instituto Lula, de onde só saiu para uma festa no Rio e uma discurseira para catadores de papel em São Paulo. Sempre cercado por muros humanos, não concedeu aos repórteres um único segundo de sua preciosa atenção. Depois, viajou para longe do Brasil e passou uma semana driblando jornalistas com saídas pelos fundos e escapadas pela cozinha. Para quê? Para nada.
Se já era de bom tamanho quando partiu, a encrenca ficara um pouco maior quando voltou. Indiciada pela Polícia Federal, Rosemary Noronha foi em seguida denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Entre os comparsas incluídos na denúncia figuram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Rubens Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Marcelo Vieira, que vive de expedientes. Os três bebês de Rosemary são os líderes da máfia dos pareceres técnicos forjados.
Os lucros da organização criminosa aumentaram extraordinariamente depois do recrutamento da chefe de gabinete do escritório paulista da Presidência. Rose apresentava-se aos interlocutores conforme o grau de intimidade. Para os íntimos, era a mulher do Lula. Para o resto, a namorada do presidente. Nas reuniões com subordinados, declamava o primeiro verso do hino dos novos-ricos: “Aqui tudo é chique”. Parecia-lhe especialmente chique a decoração do escritório na esquina da Paulista com a Augusta. Numa das paredes, um imenso pôster mostra Lula (com a camisa do Corinthians) batendo um pênalti.
Enquanto esteve acampada na casa da filha Mirele, também demitida da Anac, Rose pôde contabilizar os estragos causados pela brusca tempestade. De um dia para o outro, perdeu o emprego oficial, o posto de primeira-dama oficiosa, o escritório, o salário superior a R$ 10 mil, os amigos e o namorado. Acabou a vida mansa proporcionada pelos lucros da quadrilha. Acabaram as viagens internacionais ou mesmo domésticas: excluída das comitivas presidenciais desde a posse de Dilma Rousseff, agora não pode sequer sonhar com outro cruzeiro no mar de lhabela, ao som da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
Sempre à beira de um ataque de nervos, Rose acha que os companheiros do PT não lhe estenderam a mão na hora da tormenta. É uma caixa-preta até aqui de mágoa. Tão perigosa quanto Paulo Vieira, que anda sondando o Ministério Público sobre as vantagens da delação premiada. Nesta segunda-feira, a sindicância aberta pelo Planalto para apurar o envolvimento de funcionários públicos com a quadrilha foi prorrogada por dez dias. Talvez dê em nada. Mas o processo judicial começou a andar. E o desfecho do julgamento do mensalão avisou que ninguém mais deve considerar-se condenado à perpétua impunidade.
Nos escândalos anteriores, organogramas secretos previam a existência, entre o líder supremo e os meliantes em ação, de um alto comando formado por companheiros ─ que sempre funcionou como um oportuníssimo airbag na hora do estrondo. Desta vez nâo há intermediários entre o candidato a inimputável e a turma da delinquente que protege há quase 20 anos. As impressões digitais do ex-presidente estão por toda parte.
Foi Lula quem instalou Rosemary Noronha no gabinete em São Paulo e pediu a Dilma que a mantivesse no cargo. Foi Lula quem, a pedido de Rose, transformou os irmãos Vieira em diretores de agências reguladoras. Sem Lula, Rose não se teria juntado à comitiva presidencial em 23 viagens internacionais. Sem Lula, uma alpinista social de subúrbio jamais teria feito carreira como traficante de influência. Era Lula a fonte de poder da quadrilha, que não teria existido sem ele.
Pouco importam os balidos do rebanho, a vassalagem dos governadores ou as genuflexões de Dilma Rousseff (que conhecia muito bem a representante da Presidência em São Paulo). Rose é um caso de polícia criado por Lula. Todos são iguais perante a lei. Ele que trate de encontrar explicações ─ se é que existe alguma.
A menos que todos os jornalistas resolvam perder definitivamente a voz, o homem que nunca sabe de nada será confrontado com perguntas e cobranças que exigirão álibis menos bisonhos e respostas mais criativas. Se repetir, por exemplo, que se sente “apunhalado pelas costas”, Lula se arriscará a ouvir de volta uma desmoralizante gargalhada nacional. Se confirmar que “não se surpreendeu” com o que houve, como balbuciou em Berlim, terá de ser menos ambíguo: não se surpreendeu com as gatunagens de Rose, com o atrevimento do bando, com a eficiência da Polícia Federal ou com o quê?
O colecionador de escândalos já deveria ter aprendido que nenhuma patifaria de grosso calibre deixa de existir ou fica menor só porque o protagonista da história finge ignorá-la. Atropelado pelas apurações da PF, passou as duas primeiras semanas enfurnado no Instituto Lula, de onde só saiu para uma festa no Rio e uma discurseira para catadores de papel em São Paulo. Sempre cercado por muros humanos, não concedeu aos repórteres um único segundo de sua preciosa atenção. Depois, viajou para longe do Brasil e passou uma semana driblando jornalistas com saídas pelos fundos e escapadas pela cozinha. Para quê? Para nada.
Se já era de bom tamanho quando partiu, a encrenca ficara um pouco maior quando voltou. Indiciada pela Polícia Federal, Rosemary Noronha foi em seguida denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Entre os comparsas incluídos na denúncia figuram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Rubens Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Marcelo Vieira, que vive de expedientes. Os três bebês de Rosemary são os líderes da máfia dos pareceres técnicos forjados.
Os lucros da organização criminosa aumentaram extraordinariamente depois do recrutamento da chefe de gabinete do escritório paulista da Presidência. Rose apresentava-se aos interlocutores conforme o grau de intimidade. Para os íntimos, era a mulher do Lula. Para o resto, a namorada do presidente. Nas reuniões com subordinados, declamava o primeiro verso do hino dos novos-ricos: “Aqui tudo é chique”. Parecia-lhe especialmente chique a decoração do escritório na esquina da Paulista com a Augusta. Numa das paredes, um imenso pôster mostra Lula (com a camisa do Corinthians) batendo um pênalti.
Enquanto esteve acampada na casa da filha Mirele, também demitida da Anac, Rose pôde contabilizar os estragos causados pela brusca tempestade. De um dia para o outro, perdeu o emprego oficial, o posto de primeira-dama oficiosa, o escritório, o salário superior a R$ 10 mil, os amigos e o namorado. Acabou a vida mansa proporcionada pelos lucros da quadrilha. Acabaram as viagens internacionais ou mesmo domésticas: excluída das comitivas presidenciais desde a posse de Dilma Rousseff, agora não pode sequer sonhar com outro cruzeiro no mar de lhabela, ao som da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
Sempre à beira de um ataque de nervos, Rose acha que os companheiros do PT não lhe estenderam a mão na hora da tormenta. É uma caixa-preta até aqui de mágoa. Tão perigosa quanto Paulo Vieira, que anda sondando o Ministério Público sobre as vantagens da delação premiada. Nesta segunda-feira, a sindicância aberta pelo Planalto para apurar o envolvimento de funcionários públicos com a quadrilha foi prorrogada por dez dias. Talvez dê em nada. Mas o processo judicial começou a andar. E o desfecho do julgamento do mensalão avisou que ninguém mais deve considerar-se condenado à perpétua impunidade.
Nos escândalos anteriores, organogramas secretos previam a existência, entre o líder supremo e os meliantes em ação, de um alto comando formado por companheiros ─ que sempre funcionou como um oportuníssimo airbag na hora do estrondo. Desta vez nâo há intermediários entre o candidato a inimputável e a turma da delinquente que protege há quase 20 anos. As impressões digitais do ex-presidente estão por toda parte.
Foi Lula quem instalou Rosemary Noronha no gabinete em São Paulo e pediu a Dilma que a mantivesse no cargo. Foi Lula quem, a pedido de Rose, transformou os irmãos Vieira em diretores de agências reguladoras. Sem Lula, Rose não se teria juntado à comitiva presidencial em 23 viagens internacionais. Sem Lula, uma alpinista social de subúrbio jamais teria feito carreira como traficante de influência. Era Lula a fonte de poder da quadrilha, que não teria existido sem ele.
Pouco importam os balidos do rebanho, a vassalagem dos governadores ou as genuflexões de Dilma Rousseff (que conhecia muito bem a representante da Presidência em São Paulo). Rose é um caso de polícia criado por Lula. Todos são iguais perante a lei. Ele que trate de encontrar explicações ─ se é que existe alguma.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
O Insustentável Peso da Mentira
Pelo mais elementar bom senso, a vítima de acusações caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona, eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada. Por que, então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura de Luiz Inácio Lula da Silva na berlinda, ele próprio e o PT têm preferido atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores e as acusações? Por que a presidente Dilma Rousseff, que vinha primando por manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lulopetismo, decidiu agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho? Por que não exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério Público que coloque em pratos limpos toda essa infamante campanha articulada pelas forças do mal para destruir Lula e o PT? Afinal, quem não deve não teme.
Mas a verdade, e é por isso que o lulopetismo anda batendo cabeça em evidente sintoma de pânico, é que Lula deve, sim. Deve, pelo menos, muitas explicações à Nação.
Muitos preferem não ver, outros não conseguem, mas o desapreço do Grande Chefe por aquilo que os petistas ideológicos chamam de “moral burguesa” é marca registrada de seu comportamento. Até mesmo como chefe de governo, Lula deu claras demonstrações desse desvio de conduta nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os companheiros “aloprados” pegos com a boca na botija. E despediu-se da Presidência demonstrando em grande estilo como se sente “mais igual” do que todo mundo, ao ordenar ao obsequioso chanceler Celso Amorim que, ao arrepio da lei, distribuísse passaportes diplomáticos para toda a sua prole. E logo depois, já como ex-presidente, “a convite” do então ministro da Defesa, foi refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do Exército nas praias do Guarujá. Comportamento típico de quem se considera todo-poderoso, acima do bem e do mal. Não exatamente de alguém que, como apregoam seus acólitos, ostenta “reputação ilibada”.
Lula, portanto, deve realmente muitas explicações ao País. Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.
A estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por decisão, até certo ponto surpreendente, de Dilma Rousseff. Vários ministros já procuraram jornalistas para protestar contra a “falsidade impressionante” das denúncias que envolvem o Grande Chefe.
A direção nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores a “expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando”. Como de hábito em manifestações de autoria de Rui Falcão, boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT, dedica-se a atacar a imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de “um condenado”. Para o PT, definitivamente, Marcos Valério não está entre os condenados injustamente pelo STF.
Na base aliada, além do notório José Sarney, para quem Lula está acima de qualquer suspeita, agora Fernando Collor – logo quem! -, dá uma mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, ao fogo de encontro solicitado pelo líder petista na Câmara, Jilmar Tatto: propôs o convite a FHC e ao procurador-geral Roberto Gurgel para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, “se eles querem guerra, vão ter”.
Não há dúvida. Pela primeira vez, desde que chegou ao governo em 2003, Lula sentiu um golpe. Pela primeira vez teme as consequências dos seus atos.
Esta história está apenas começando.
(O Estado de S. Paulo)
Mexeu com Lula, mexeu comigo.
Sylvio Guedes e o PT
“Mexeu
com Lula, mexeu comigo”. Querem um slogan mais golpista do que este? O
PT há muito tempo decidiu que tem o direito de colocar pessoas acima da
lei, do bem e do mal, do julgamento da sociedade, do escrutínio da
imprensa e do Ministério Público, das investigações da Polícia Federal,
enfim, da espada da lei. Vamos ver quem é mesmo acima do bem e do mal.
Pode não ser hoje, nem amanhã, nem o ano que vem. Mas a História, esta
com certeza vai contar as histórias todas…
Limpando a Área
Em primeiro lugar, quem acompanhou os acontecimentos brasileiros dos últimos cinquenta anos sabe que colocar as palavras “inteligência” e “militar” lado a lado, numa mesma expressão, no Brasil de hoje, é temerário.
Em segundo lugar, vê-se que essa madame Rose tem sido acusada, ultimamente, de todos os males do mundo. Do jeito que as coisas vão, eu poderia disseminar, com igual leviandade que, até agora, já recebi informes de que ela estaria envolvida também em pelo menos dois atentados frustrados a tempo contra a vida do presidente reeleito Barack Obama, além de um tremor de placa tectônica, no fundo do mar, a 900 km da costa japonesa – fato atribuído a suas atividades ilícitas envolvendo venda de previsões falsas para os serviços de meteorologia e de alertas sismológicos. A enésima cirurgia de Hugo Chavez também estaria sob o manto da influência de madame Rose, já que tudo não passaria de um grande movimento de marketing destinado a reinserir a Venezuela no cenário internacional – sem falar nos diagnósticos médicos falsos que sua gangue teria negociado com os incautos bolivarianos.
Enfim… resumo da ópera: enquanto não houver provas cabais — documentos, fotos, ou gravações de voz, video, gemidos, etc — do envolvimento dessa madame Rose em eventos diversos (como, por exemplo, o da transferência de ciclópicos 25 milhões de euros para o Banco Espírito Santo, cujas declarações alfandegárias, segundo as notícias originais, seriam isentas de sigilo bancário e disponíveis a qualquer um em Oporto, Portugal — portanto, cadê as cópias desses documentos para dar substância às notícias acusatórias?) não há como acreditar em nada que se fale a respeito dela, exceto o óbvio: ela era merenda do cachaceiro analfabeto que está com as costas totalmente perfuradas por punhaladas várias, e que na condição de merenda privilegiada aproveitou para praticar uma série de atos que estão debaixo do microscópio da polícia.
Para resumir, é preciso nos mantermos bem atentos a essa surrada tentativa de diversionismo petralha. Não se pode perder de vista, em momento algum, que o objetivo claro e imediato é destruir o mito criado em torno deste safado que desgovernou o Brasil durante oito longos anos. Isso precisa ser alcançado enquanto ele ainda está vivo. Lula não pode passar às páginas dos livros de História do Brasil, depois de morto, como a oitava maravilha do universo, o homem que acabou com todos os problemas do país. Lula tem que ser devidamente execrado, isso sim, pelos crimes que cometeu — a partir da chefia do mensalão, passando por diversos outros “malfeitos”. É o Lula oportunista, preguiçoso, safado, cachaceiro, incompetente, sem iniciativa para nada, falastrão que iludiu o povo com sua conversa mole, que surfou na onda econômica internacional positiva durante todo o tempo em que esteve no Planalto, sem mover um dedo para corrigir as distorções internas do Brasil, etc que precisa ser retratado nos livros para as gerações futuras.
Essa petequeira de nome madame Rose simplesmente não tem QI para cuidar de tramóias internacionais envolvendo diamantes africanos negociados na Europa. O negócio dela está mais para negociar pareceres bilionários em troca de dois tickets para assistir a shows de (Deus me livre dessa má hora!) Bruno e Marrone.
O silêncio de Lula e os apelidos de infância
Sem
dar nenhum tipo de explicação sobre as recentes acusações que o
aproximam de escândalos políticos – seja com a operação Porto Seguro, da
Polícia Federal, seja com as recentes revelações de Marcos Valério –, o
ex-presidente Lula utilizou um argumento inusitado a aliados para
justificar o motivo de seu silêncio.
Em conversa com governadores que lhe manifestaram solidariedade em reunião ontem, Lula utilizou uma tese peculiar para explicar por que se cala diante de revelações de irregularidades: “É como apelido quando você é criança. Se começar a falar, aí é que pega mesmo.”
Mesmo com a máxima do petista, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou sobre as declarações de Marcos Valério, que implicam Lula no mensalão: ‘Nada deixará de ser apurado’.
(Laryssa Borges, de Brasília)
Em conversa com governadores que lhe manifestaram solidariedade em reunião ontem, Lula utilizou uma tese peculiar para explicar por que se cala diante de revelações de irregularidades: “É como apelido quando você é criança. Se começar a falar, aí é que pega mesmo.”
Mesmo com a máxima do petista, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou sobre as declarações de Marcos Valério, que implicam Lula no mensalão: ‘Nada deixará de ser apurado’.
(Laryssa Borges, de Brasília)
Polícia prende grupo suspeito de desviar verba pública no RS
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Uma
operação conjunta da Delegacia Fazendária do Rio Grande do Sul com a
Polícia Civil prendeu nesta quinta-feira 13 suspeitos de desvio de
dinheiro público, direcionamento de licitações, peculato, fraude na
requisição e no pagamento de consultas médicas. A ação aconteceu na
cidade de Crissiumal, município de 14 mil habitantes no noroeste do
Estado.
O esquema teria diferentes ramificações. Em uma delas, requisições de exames não feitos eram cobradas de um consórcio regional de saúde. Em outra, havia compra fictícia de material para obras, pago e sem entrega. A investigação durou seis meses.
A polícia calcula que o prejuízo causado pelo grupo ao município é de aproximadamente 2 milhões de reais. Entre os presos estão o vice-prefeito, Carlos Grün (PT), ex-secretários, médicos e empresários. Os acusados não se manifestaram até o final desta tarde.
20/12/2012
às 20:14 \ Uncategorized
O esquema teria diferentes ramificações. Em uma delas, requisições de exames não feitos eram cobradas de um consórcio regional de saúde. Em outra, havia compra fictícia de material para obras, pago e sem entrega. A investigação durou seis meses.
A polícia calcula que o prejuízo causado pelo grupo ao município é de aproximadamente 2 milhões de reais. Entre os presos estão o vice-prefeito, Carlos Grün (PT), ex-secretários, médicos e empresários. Os acusados não se manifestaram até o final desta tarde.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
O inimputável
20/12/2012
às 6:33
Vale a pena ler o segundo editorial do Estadão desta quinta:
*
Eis a palavra de ordem: Luiz Inácio Lula da Silva paira acima da Justiça, e o seu detrator, o publicitário Marcos Valério, é um desqualificado. Desde que, na semana passada, este jornal revelou que o operador do mensalão, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em setembro último, acusou o ex-presidente de ter aprovado o esquema de compra de votos de deputados e de tirar uma casquinha da dinheirama que correu solta à época do escândalo, o apparat petista e os políticos governistas apressaram-se a fazer expressão corporal de santa ira: “Onde já se viu?!”.
Eis a palavra de ordem: Luiz Inácio Lula da Silva paira acima da Justiça, e o seu detrator, o publicitário Marcos Valério, é um desqualificado. Desde que, na semana passada, este jornal revelou que o operador do mensalão, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em setembro último, acusou o ex-presidente de ter aprovado o esquema de compra de votos de deputados e de tirar uma casquinha da dinheirama que correu solta à época do escândalo, o apparat petista e os políticos governistas apressaram-se a fazer expressão corporal de santa ira: “Onde já se viu?!”.
Apanhado
em Paris pela notícia da denúncia, Lula limitou-se a dizer que era tudo
mentira, alegou indisposição para não comparecer a um jantar de gala
oferecido pelo presidente François Hollande à colega brasileira Dilma
Rousseff e, no dia seguinte, fugiu da imprensa, entrando e saindo dos
recintos pela porta dos fundos – algo não propriamente honroso para um
ex-chefe de Estado que se tem em altíssima conta. Em seguida, usando
como porta-voz o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
declarou-se “indignado”. Outros ministros também se manifestaram. Como
nem por isso as acusações de Valério se desmancharam no ar, nem o PT
ocupou as praças para fulminá-las, os políticos tomaram para si a defesa
do acusado.
Na
terça-feira, um dia depois do término do julgamento do mensalão, oito
governadores se abalaram a São Paulo em romaria de “solidariedade” a
Lula, na sede do instituto que leva o seu nome. De seu lado, a bancada
petista na Câmara dos Deputados promoveu na sala do café da Casa um ato
pró-Lula. Foi um fracasso de bilheteria: poucos parlamentares da base
aliada (e nenhum senador) atenderam ao chamado do líder do PT, Jilmar
Tatto, para ouvir do líder do governo Dilma, Arlindo Chinaglia, que Lula
“é (sic) o maior presidente do Brasil”, além de “patrimônio do País”,
na emenda do peemedebista Henrique Eduardo Alves, que deve assumir o
comando da Câmara em fevereiro. Não faltaram, naturalmente, os gritos de
“Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
Já a
reverência dos governadores – aparentemente, uma iniciativa do cearense
Cid Gomes – transcorreu a portas fechadas. Havia três petistas, dois
pessebistas (mas não Eduardo Campos, que se prepara para ser “o cara” em
2014 ou 2018), dois peemedebistas e um tucano, Teotônio Vilela Filho,
de Alagoas, autodeclarado amigo de Lula. Seja lá o que tenham dito e
ouvido no encontro, os seus comentários públicos seguiram estritamente a
cartilha da intocabilidade de Lula, com as devidas variações pessoais.
Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal, beirou a apoplexia ao
proclamar que Valério fez um “ataque vil, covarde, irresponsável e
criminoso” a Lula. “Só quem confia em vigarista dessa ordem quer dar voz
a isso.”
Não se
trata, obviamente, de confiar em vigaristas, mas de respeitar os fatos.
Valério procurou o Ministério Público – não vem ao caso por que – para
fazer acusações graves a um ex-presidente e ainda figura central da
política brasileira. Não divulgá-las seria compactuar com uma das
partes, em detrimento do direito da sociedade à informação. Tudo mais é
com a instituição que tomou o depoimento do gestor do mensalão,
condenado a 40 anos. Ainda ontem, por sinal, o procurador-geral Roberto
Gurgel, embora tenha mencionado o contraste entre as frequentes
declarações “bombásticas” de Valério e os fatos apurados, prometeu
examinar “em profundidade” e “rapidamente” as alegações envolvendo Lula.
Não
poderia ser de outra forma. “Preservar” o ex-presidente, como prega o
alagoano Teotônio Vilela Filho, porque ele tem “um grande serviço
prestado ao Brasil”, é incompatível com o Estado Democrático de Direito.
O que Lula fez pelo País pode ser aplaudido, criticado ou as duas
coisas, nas proporções que se queiram. O que não pode é torná-lo
literalmente inimputável. Dizer, por outro lado, como fez o cearense Cid
Gomes, que Valério não foi “respeitoso com a figura do ex-presidente e
com a memória do Brasil” põe a nu a renitente mentalidade que evoca a
máxima atribuída ao ditador Getúlio Vargas: “Aos amigos, tudo; aos
inimigos, a lei”.
Lula e os “vagabundos” com ar-condicionado. Ou: Por que Lula é o mais solitário dos homens
Por
mais que os cachorros loucos estejam querendo briga de rua em vez de
confronto de ideias, prefiro a serenidade que evidencia o fundo falso
das teses dos farsantes. Vamos lá. Luiz Inácio Lula da Silva é um
político ou uma entidade que paira acima do bem e do mal, imune a
qualquer crítica? É alguém que, a exemplo de tantos outros, participa da
disputa pelo poder — e ele é muito bem-sucedido — ou é um demiurgo?
Notem: se eu escrevesse aqui, e eu jamais escreveria, que todas as
análises críticas que se possam fazer de Cristo ou de Paulo, o Apóstolo,
são, de saída, despropositadas e decorrentes da má-fé, certamente
apareceria alguém, e não despido de razão, para acusar meu
obscurantismo. Mesmo para os que temos fé, é preciso admitir, o
contraditório é parte do jogo. Cristo ou São Paulo podem, assim, ser
submetidos ao livre exame. Lula não! Segundo ele mesmo e seus sectários,
existe um “Lula” que está num patamar superior, jamais alcançado por
qualquer ser ou ente — e isso inclui o mundo religioso.
Reivindica-se
para ele, de maneira desabrida, absurda, insana, a condição de
intocável, inimputável, inalcançável por qualquer lei, código ou, por
certo, crítica política. Certo! Digamos que ele fosse apenas um oráculo;
digamos que fosse apenas uma referência e uma fonte permanente a jorrar
sabedoria, temperança, prudência, paz, entendimento, união,
generosidade, inclusão — listem aí todos os substantivos que costumam
acompanhar esses gurus orientais que volta e meia aparecem. Mas Lula é
isso? E noto: eu não estou recomendado que seja, não! Estando, como
está, no gozo pleno de seus direitos políticos, que faça política, ora
essa! Não estou, em suma, sugerindo que ele seja ignorado se ficar
quieto. Isso não é condição que se imponha a ninguém na democracia. Ele,
sim, lembro à margem, sugeriu mais de uma vez que seus adversários
fossem cuidar dos netos. Ele, sim, sugeriu mais de uma vez que tucanos
como FHC ou Serra vivessem um segundo exílio, desta vez dentro do
próprio país.
Lula tem o
direito de fazer política. E, como tal, se expõe ao jogo político,
prática em que, como é sabido, ele próprio é muito hábil há muito tempo.
Que a gritaria para elevá-lo acima de nossa precária humanidade — e
acima até da santidade, já que se admite que até Cristo está sujeito a
controvérsias quanto a suas orientações morais — esteja na boca e na
pena daquela gente financiada por estatais, isso eu compreendo, embora
seja um escândalo em si, já que recursos públicos estão sendo postos a
serviço de uma causa partidária. Que colunistas da grande imprensa, no
entanto, se dediquem ao vexame de cobrar que um político militante, que
pode falar uma linguagem muito virulenta, fique imune à crítica, à
investigação e às leis, bem, aí estamos no terreno do incompreensível;
estamos diante de uma evidência clara de que até o ambiente por
excelência da liberdade de imprensa já se deixou conspurcar. Adiante.
Os “vagabundos”
Lula compareceu à posse do novo presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, nesta quarta. Foi lá que aquele que viria a ser presidente da República começou a sua carreira política. O evento serviu como um ato de desagravo ao líder que estaria sendo vítima de uma conspiração das elites e da imprensa — mais uma vez, essa história cretina. Petistas, pcdobistas, cutistas e militantes do MST e da UNE gritaram: “Um, dois, três, é Lula outra vez”. Ou ainda: “Lula é meu amigo; mexeu com ele, mexeu comigo”… Certo!
Lula compareceu à posse do novo presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, nesta quarta. Foi lá que aquele que viria a ser presidente da República começou a sua carreira política. O evento serviu como um ato de desagravo ao líder que estaria sendo vítima de uma conspiração das elites e da imprensa — mais uma vez, essa história cretina. Petistas, pcdobistas, cutistas e militantes do MST e da UNE gritaram: “Um, dois, três, é Lula outra vez”. Ou ainda: “Lula é meu amigo; mexeu com ele, mexeu comigo”… Certo!
Antes que
avance, pergunto: o que é “mexer com Lula”? Noticiar que Marcos Valério
deu um depoimento ao Ministério Público e o acusou de beneficiário
pessoal do esquema do mensalão? Noticiar que, segundo o ex-operador da
lambança, ele sempre soube de tudo e até participou da celebração de
alguns acordos? Os “lulistas” deveriam cobrar a traição — ou, como
querem, “a mentira” — de seu ex-amigo; daquele que transitava com tanta
desenvoltura nos bastidores do poder que marcava reuniões com diretores
do Banco Central como quem diz “hoje é quarta-feira”; daquele que
garantia o fluxo de dinheiro para os parlamentares da base aliada. Eles
fizeram acordo com Valério, não seus críticos.
O que é
“mexer com Lula”? Deflagrar a “Operação Porto Seguro”? Bem, os valentes
poderiam ir lá protestar às portas da Polícia Federal, tantas vezes
exaltadas nos 10 anos de governo petista como exemplo de instituição que
funciona. Ou não funcionou desta vez porque chegou perigosamente perto
da “Suprassantidade”? O que é “mexer com Lula”? Noticiar os
desdobramentos dessa operação? Ou, então, a oposição pedir investigação?
Avancemos.
A posse do companheiro sindicalista serviu de pretexto para o ato de
desagravo. E Lula discursou por quarenta minutos. Quem falou? Teria sido
aquela “fonte permanente a jorrar sabedoria, temperança, prudência,
paz, entendimento, união, generosidade, inclusão…”? Claro que não! Pela
simples e óbvia razão de que Lula não é isso. Ele é um político, não o
super-homem.
Aquele mesmo que foi à TV satanizar seus adversários em recente campanha eleitoral voltou a mostrar as garras. Afirmou: “Só
existe uma possibilidade de eles me derrotarem: é trabalhar mais do
que eu. Mas, se ficar um vagabundo em uma sala com ar-condicionado
falando mal de mim, vai perder”.
“Vagabundo
em sala com ar-condicionado”? Pois é… Ar-condicionado existe, por
exemplo, lá no Instituto Lula, onde se organizou boa parte das
indignidades tentadas na CPI do Cachoeira para incriminar a imprensa, a
Procuradoria-Geral e ministros do STF. Ar-condicionado existe lá no
Instituto Lula, onde se montou a, digamos assim, central de inteligência
da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura; ar-condicionado existe lá
no Instituto Lula, onde se cuida, depois das denúncias de Valério e do
Rosegate, da “resistência e reação”. Essa oposição de que cuida o
Apedeuta é falsa como nota de R$ 3. Já não existe mais o “Partido do
Paço” contra o “Partido do Passo”, para citar uma oposição de um sermão
de Padre Vieira. Nenhum partido é hoje mais palaciano do que o PT.
Aliás, segundo se apurou no processo do mensalão — com depoimentos de
testemunhas e réus — parte das reuniões que figuram como capítulos do
escândalo foi realizada no Palácio do Planalto. Com ar-condicionado,
sim, senhores. E INDUBITAVELMENTE COM A PRESENÇA DE VAGABUNDOS. Alguns dos vagabundos vão para a cadeia.
A quais
outros “vagabundos” Lula está se referindo? Não creio que esteja a falar
de Marcos Valério, que o acusou, porque a sequência do discurso indica
que se trata de gente que estaria interessada em derrotá-lo
politicamente. Não deve ser à Polícia Federal, que, da mesma sorte, não
parece se encaixar na descrição. Nem mesmo estaria se dirigindo
obliquamente à imprensa, que também não disputa o poder do estado…
Estaria
Lula, num rasgo de insanidade, sendo desaforado com o Procurador-Geral
da República e com os ministros do Supremo que condenaram seus amigos?
Não foi corajoso o bastante para deixar claro qual era o alvo. Preferiu
ser genérico porque, assim, inflama mais a militância e dá mais munição
àquela turma do “pega-pra-capar” da Internet.
Como ele
já afirmou que pretende percorrer o país em 2013 e falou em “me vencer”,
lê-se por aí que anunciou a sua candidatura a alguma coisa. Não tendo
como tirar Dilma da sucessão (embora seja essa a vontade de seus
fanáticos), é evidente que estava alimentando o boato de que pode
disputar o governo de São Paulo. Ora, é claro que pode! Reitero que está
no gozo de seus direitos políticos. Mas por que precisa emprestar a
essa possibilidade o tom de uma ameaça, de “cuidado comigo”?
Narciso
Nunca antes na história destepaiz houve alguém que se amasse tanto. Já especulei aqui que o Lula de verdade deve sentir certo ciúme do Lula da sua própria imaginação. Ele disse mais: “Como eles previam o meu fracasso, eu era o próprio Titanic, mas sem Romeu e Julieta, só eu e o povo. Eles não perceberam a construção que nós fizemos”.
Nunca antes na história destepaiz houve alguém que se amasse tanto. Já especulei aqui que o Lula de verdade deve sentir certo ciúme do Lula da sua própria imaginação. Ele disse mais: “Como eles previam o meu fracasso, eu era o próprio Titanic, mas sem Romeu e Julieta, só eu e o povo. Eles não perceberam a construção que nós fizemos”.
Suponho
que chama de “Romeu e Julieta” o casal amoroso daquele filme do navio
que afunda… O mais espetacular dessa construção é a sua falsidade.
Aconteceu justamente o contrário: procedam a uma pesquisa, e vocês verão
que PSDB e PFL se juntaram no apoio ao então ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, nas necessárias medidas de austeridade. Quem tentava
derrubar Palocci, como todo mundo sabe, eram alguns petistas — a começar
de Aloizio Mercadante, que tinha um famoso “Plano B”… Aquilo, sim,
teria sido empurrar o governo e o país para o buraco.
Ocorre que
Lula só consegue cantar as suas próprias glórias se imaginar que há
gente torcendo pelo seu insucesso; não lhe basta obter êxito a favor de
alguém ou de alguma causa; ele precisa, necessariamente, triunfar CONTRA
alguém ou alguma coisa. Não pode, assim, haver temperamento mais avesso
ao daquele suposto líder que está acima das contendas humanas. Em
seu discurso, foi deselegante — e, como sempre, ingrato — até com
aqueles que pavimentaram a sua carreira no sindicato. Também eles, disse
Lula, estariam tentando manipulá-los, mas, deixou claro, ele foi muito
mais esperto.
Lula não é
o primeiro líder na história da humanidade com essas características e
com esse temperamento. Houve outros antes dele. A sorte do Brasil, meus
caros, é que a “virtù” do nosso Príncipe não teve a chance de se casar
com a “Fortuna”; a sorte do Brasil é que a história, o ambiente, as
circunstâncias e a institucionalidade não permitiram a Lula viver
plenamente todas as suas qualidades e vocações, como permitiram a
Hitler, Mussolini, Stálin ou, mais recentemente e como farsa, Chávez.
Este homem
poderia ser, para si mesmo, a evidência de um formidável, de um
estupendo sucesso. Mas intuo que, mesmo depois de tudo, mesmo depois de
ter alcançado na vida o que poucos no mundo puderam ou poderão alcançar,
Lula estará infeliz na hora da “indesejada das gentes” (Manuel
Bandeira), da qual ninguém escapa.
Sabem por
quê? Porque nem mesmo a generosidade ou a bonomia alheias convencem o
fundo da alma de Lula. Porque, e ele deixou isso claro nesta quarta, ele
desconfia das boas intenções até mesmo daqueles que o ajudaram a ser
quem é. Na sua imaginação delirante, autocentrada e autoritária, só
agiram desse modo porque apostavam na sua derrota.
Se Lula
não dormisse lendo até Chico Buarque, como já confessou, eu lhe
recomendaria “Poema em Linha Reta”, de Fernando Pessoa. Para ele, que
nunca se sentiu fraco, que nunca se sentiu um pouco ridículo, que nunca
se sentiu um pouco vil, que nunca se sentiu, em suma, humano, talvez
fizesse bem conhecer humanas precariedades… Mas quê… Ele vai dormir
lendo esse “português do carvalho…”
Lula, no
fim das contas, ainda que admirado por milhões, é mais solitário do que
qualquer um de nós porque jamais conseguirá ser amado o quanto ele
próprio se ama. É único no que imagina ser e no amor que alimenta por
esse ser imaginário.
Texto originalmente publicado nesta quarta às 23h07
O Insustentável Peso da Mentira The Unbearable Weight of Lies
Pelo mais elementar bom senso, a vítima de acusações caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona, eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada. Por que, então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura de Luiz Inácio Lula da Silva na berlinda, ele próprio e o PT têm preferido atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores e as acusações? Por que a presidente Dilma Rousseff, que vinha primando por manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lulopetismo, decidiu agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho? Por que não exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério Público que coloque em pratos limpos toda essa infamante campanha articulada pelas forças do mal para destruir Lula e o PT? Afinal, quem não deve não teme.
Mas a verdade, e é por isso que o lulopetismo anda batendo cabeça em evidente sintoma de pânico, é que Lula deve, sim. Deve, pelo menos, muitas explicações à Nação.
Muitos preferem não ver, outros não conseguem, mas o desapreço do Grande Chefe por aquilo que os petistas ideológicos chamam de “moral burguesa” é marca registrada de seu comportamento. Até mesmo como chefe de governo, Lula deu claras demonstrações desse desvio de conduta nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os companheiros “aloprados” pegos com a boca na botija. E despediu-se da Presidência demonstrando em grande estilo como se sente “mais igual” do que todo mundo, ao ordenar ao obsequioso chanceler Celso Amorim que, ao arrepio da lei, distribuísse passaportes diplomáticos para toda a sua prole. E logo depois, já como ex-presidente, “a convite” do então ministro da Defesa, foi refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do Exército nas praias do Guarujá. Comportamento típico de quem se considera todo-poderoso, acima do bem e do mal. Não exatamente de alguém que, como apregoam seus acólitos, ostenta “reputação ilibada”.
Lula, portanto, deve realmente muitas explicações ao País. Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.
A estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por decisão, até certo ponto surpreendente, de Dilma Rousseff. Vários ministros já procuraram jornalistas para protestar contra a “falsidade impressionante” das denúncias que envolvem o Grande Chefe.
A direção nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores a “expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando”. Como de hábito em manifestações de autoria de Rui Falcão, boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT, dedica-se a atacar a imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de “um condenado”. Para o PT, definitivamente, Marcos Valério não está entre os condenados injustamente pelo STF.
Na base aliada, além do notório José Sarney, para quem Lula está acima de qualquer suspeita, agora Fernando Collor – logo quem! -, dá uma mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, ao fogo de encontro solicitado pelo líder petista na Câmara, Jilmar Tatto: propôs o convite a FHC e ao procurador-geral Roberto Gurgel para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, “se eles querem guerra, vão ter”.
Não há dúvida. Pela primeira vez, desde que chegou ao governo em 2003, Lula sentiu um golpe. Pela primeira vez teme as consequências dos seus atos.
Esta história está apenas começando.
(O Estado de S. Paulo)
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