Alexandre Garcia
14 de Novembro de 2011
Onda Moralista
Dirceu chegou a se valer da história contemporânea para demonstrar como o moralismo é nocivo. Foi na crista de movimentos moralistas que Jânio Quadros(o da vassoura original) e Fernando Collor se elegeram - explicou ele. Usou o método de Lula para pegar os desinformados. Jânio não caiu por moralismo, mas porque a revolução moral pretendida por ele acabou deixando-o só. O Congresso ficou com medo e o abandonou e só ficou aliviado quando Jânio renunciou. Já Collor, candidato por sua luta contra os marajás, caiu porque, depois de eleito por um discurso de primeiro mundo, foi descoberto usando métodos de terceiro mundo. Mas ficou o legado de primeiro mundo, tocado por Itamar, Fernando Henrique e até Lula e Dilma. O Brasil abriu-se para o mundo, as carroças começaram a virar carros, e os sucessores julgaram bem-vinda e possível de ser seguida a apregoada modernidade.
Não cabe na cabeça de qualquer brasileiro não-fanatizado por partidos, religiões ou ideologias, defender o imoralismo e o acobertamento - antônimos de moralidade e denúncia de malfeitorias. Nem se imaginaria que um partido e suas lideranças possam defender isso. Mas depois de tudo o que se viu - na CPI dos Correios, na CPI dos bingos, no Mensalão, nas ambulâncias dos sanguessugas, nos dinheiros nas malas e cuecas, no presidente da Câmara cobrando propina do concessionário do restaurante - depois de tudo isso, a gente acredita, sim, que é possível defender o imoral e atacar os que tem o dever de cidadania de denunciar a corrupção.
Doutor Freud explica: defenda-me e eu te defenderei. José Dirceu tem um processo pela frente, junto com outros quase quarenta, que talvez um dia o Supremo julgue, e vai precisar de solidariedade. Só para lembrar, a denúncia do Procurador-Geral contra os quarenta do mensalão em breve vai completar seis anos, acreditem! Como tudo no Brasil, aposta-se no esquecimento. Dilma, há poucos dias, referindo-se ao Ministro Lupi, citou algo de Brizola: "O passado passou". Quando voltou do exterior, fui entrevistar o ex-governador.
Perguntei sobre o dinheiro de Cuba para a guerrilha do Coronel Jefferson, que não teria sido entregue. Brizola me respondeu: "O que é anistia, senão esquecimento? Ajude-me a por uma pedra sobre o passado e vamos construir o futuro". Não dá para erguer futuro sobre uma fundação sem solidez moral.
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