Alexandre Garcia
08 de Novembro de 2011
O sistema medusa
Aí vem outra parte do sistema. Há ministérios que são entregues a partidos, em transação de porteira fechada. Os partidos usam o ministério para fazer caixa de campanha. Com isso se reforçam e em conseqüência ficam fortes para apoiar o governo na próxima eleição. Quando desavenças, ciúmes, traições, fazem surgir denúncias, o contribuinte descobre o que se faz com tanto dinheiro recolhido como imposto, que faz falta na prestação de serviços que são dever do estado. É preciso depender do chamadofogo amigo, porque nem a oposição nem os órgãos de fiscalização do estado conseguem cobrir tanta falcatrua. Vez por outra a Polícia Federal, o TCU, o Ministério Público, a Corregedoria da União pegam algum esquema.
E quando cai um ministro, depois de muita resistência e casco duro, a substituição fica subordinada à indicação do partido dono do ministério. A solenidade de troca em geral se transforma numa sucessão de elogios e votos de confiança para o ministro que sai, como se ele fosse um inocente bebê depois de batizado. E o partido sempre é preservado, como se nada tivesse a ver com os desvios. O partido sai feliz com seu caixa eleitoral engordando. Diga-se de passagem que talvez seja mera coincidência que os ministros que caíram são os herdados do governo anterior, na sucessão de continuidade.
Ficou a mania de culpar as ONGs. A maioria é ONG séria, honesta, que presta excelentes serviços sociais. Descobriu-se recentemente que há cerca de 500 contratos com ONGs sem fiscalização no Ministério do Trabalho. Então, é o estado lavando as mãos, se omitindo ao não fiscalizar. É o estado criando a tentação para usar o dinheiro do povo nos próprios bolsos ou nos bolsos gordos dos partidos. E é bom lembrar que mesmo sem ONGs, nós sabemos dos contratos de varrição e lixo, de transporte público, de conservação e limpeza, que geram %%% para partidos e políticos. De pontos de encontro em Brasília que geram violação de sigilo de caseiro na Caixa, geram malas de dinheiro, misturam-se prostituição moral e corporal. O sistema de corrupção parece uma Medusa da mitologia, em que se corta uma serpente da cabeça e nascem outras mais.
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