terça-feira, 9 de julho de 2013

Batistinha o " X " da questão.


 Batistão era amigo dos milicos. Deram-lhe, por vários anos, a presidência da maior mineradora do país ou, quiçá, do próprio planeta. No pedestal desse cargo, Batistão tinha acesso às informações sigilosas e valiosas sobre as pesquisas minerais, não só da mineradora, como também de todo o país. Naquele tempo, pesquisa mineral era questão de segurança nacional e monopólio do Estado. Não havia leilão de áreas para prospecção de risco, como hoje. Tudo pertencia à mineradora ou ao monopólio estatal do petróleo. Mas ele era um cara probo e não beneficiou, a si próprio, com essas ricas descobertas minerais. Apenas comentou a existência de muitas delas (as mais promissoras), nos almoços em família. O filho dele, o Batistinha, esse sim um salafrário, ouviu as despretensiosas indicações do pai, correu ao DNPM e registrou as melhores jazidas em seu nome, antes que a mineradora (dona da descoberta) o fizesse. Bem, essa deve ter sido a historinha mal engendrada que ele contou aos milicos incorruptíveis que jamais promoveram uma investigação contra ele, mantendo-o na presidência da mineradora, até o crepúsculo do período de chumbo. E, assim, Batistinha ficou rico do nada. Não tinha quase nada de concreto que o fizesse um bilionário, mas era portador de muitas esperanças minerais. Era só ir lá e pegar.
               Nos anos que se seguiram, Batistinha foi evoluindo lentamente, na medida em que foi concretizando as esperanças minerais que detinha. Nesse período, notabilizou-se muito mais pelas interveniências sociais de sua existência, do que pelas empresariais. Trocou uma rica e tradicional socialite, quase no pé do altar, por uma putona gostosa e midiática que lhe pregou vários pares de chifres na testa.
              Um dia subiu ao trono, um rei muito popular que prometia combater a corrupção que assolava o país. O maroto Batistinha não acreditou muito naquilo e se aproximou, cheio de más intenções, do rei e de seus asseclas, tornando-se o garotinho preferido do bando. Fundou várias empresas que continham um “X” na sigla, como um indicativo do multiplicar. Sempre multiplicar! Beneficiou-se de vários contratos e concessões que os novos amigos lhe deram e prosperou, no novo reino. Aí descobriram as jazidas de petróleo do pré-sal. Uma riqueza sem fim. Um verdadeiro “ouro na Lua”. Era só ir lá e pegar. O rei mandou suspender todos os leilões de concessão na área do pré-sal, para destinar aquele rico veio apenas para a empresa detentora do monopólio estatal. Mas não sem antes conceder, ao garotinho de ouro, os mais ricos e promissores lotes, no apagar das luzes e na calada da bruma da corrupção.          
              Batistinha ficou bilionário, da noite para o dia. Colocou suas ações na bolsa que atraíram incautos de todo jaez. Tomou empréstimos bilionários nos bancos de fomento do governo e impregnou o mercado de ações com as inúmeras empresas “X” que constituía. O rei popular impulsionou essa ascensão vertiginosa, vendendo o ouro dos tolos ao mercado, traduzido pelas inexpugnáveis jazidas de petróleo do pré-sal. A estatal do petróleo foi vilipendiada, com um aumento da participação do governo em seu capital, de 73 bilhões de pilas, sem que ela recebesse um tostão por isso. Só a esperança das jazidas. Era só ir lá e pegar.  
              A crise de 2008 trouxe a desgraça para muitos e oportunidades para outros, como em toda a crise. Batistinha pegou as oportunidades. Nos primeiros dias da crise, as ações de suas “X” despencaram 68%. Batistinha não se abalou. Recomprou grande parte delas, por valores insignificantes. Dez meses depois, elas voltaram ao patamar antigo e depois cresceram ainda mais, com essa história do pré-sal. Batistinha revendeu-as e se tornou conhecido internacionalmente, figurando na Forbes, como a oitava maior riqueza individual do planeta, com cerca de 35 bilhões de dólares.  Um prodígio, aquele menino.     
             Mas todo engodo um dia chega ao fim. Aquela história de “é só ir lá e pegar” não era bem assim. Não havia tecnologia para sugar petróleo, de forma economicamente viável, a 7 mil metros da superfície. As metas de extrair 20 mil barris por dia, não chegaram aos cinco mil. O mercado acordou para o embuste. A estatal também se danou, mas estatal não quebra. Ruiu o castelo de cartas das multiplicadoras “X”. As ações, antes negociadas a R$ 23,50 chegaram a R$ 0,30. O menino de ouro foi apeado da presidência das empresas, para acalmar o mercado. Sua fortuna de 35 bilhões caiu para 1,8 bilhões que ainda é muita grana. O governo disse que não perdeu quase nada com a quebra. Engraçado, né?
              O fato é que o Batistinha não aparenta desespero e nem deu um tiro no quengo. Quem se danou mesmo, além do governo que emprestou os montantes do investimento, foram os acionistas que acreditaram no milagre da multiplicação dos “X” e embarcaram nessa furada. O valor nominal das ações pode ter despencado. As perdas do Batistinha se referem apenas à parte das ações que estavam em seu poder. A integralização das ações originais, lançadas no mercado, não é exigível e foi parar no bolso desse sacana. E devem estar bem a salvo, em algum paraíso fiscal.

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