terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os brasileiros com vergonha na cara são contra o uso abjeto da miséria

Reynaldo-BH: 

REYNALDO ROCHA
Uma reportagem do jornal Estado de Minas ouviu moradores de Congonhas do Norte, pequeno município que votou em Dilma (80%) e em Aécio para o Senado (90%) e que hoje teria que escolher entre um ou outro. Como previsto, ainda dividido. O que ficou evidente são os argumentos dos que se dizem eleitores de Dilma.
Uma sitiante afirma que votará em Dilma, pois “ela é Lula e Lula nos tirou da pobreza”. Detalhe: recebe R$ 215 ao mês do Bolsa Família. Outro pequeno agricultor afirma que Dilma é melhor “porque com o Bolsa Família eu não preciso trabalhar e posso formar (???) meus filhos”.
Resta alguma dúvida sobre o viés eleitoreiro e escravizante deste que é o programa que mantém o lulopetismo como força política que se pretende hegemônica?
Quem exige uma porta de saída do Bolsa Família não precisa de mais argumentos.
São dez anos de programa assistencialista. Mesmo desprezando ─ somente como exercício cínico ─ o roubo e corrupção que recheiam esse assistencialismo de carteirinha (a Folha lembra os R$ 500 milhões desviados no mesmo período, na área da Saúde sem NENHUMA punição!), resta o uso criminoso de um direito de cidadania que foi (e é) vendido como dádiva de um grupelho.
São nossos impostos. De todos nós. Dos que são lulopetistas ou que são somente democratas. E mesmo dos direitistas raivosos. TODOS contribuímos. Concordando ou não.
A visão de que se saiu da pobreza por ter R$ 215 ao mês (essenciais para que a entrevistada não tivesse como alimento somente sopa de fubá, como ressaltou) é perversa.
A pobreza está na falta de saúde, de renda, de emprego, na educação inexistente e no exercício indigno da cidadania. TODOS estes “detalhes” são substituídos pelo “favor” distribuído pelo ESTADO. E nunca pelo partido.
O assistencialismo é necessário. Nenhuma corrente ideológica, no Brasil, irá propor que as mulheres percam o direito ao voto. É conquista secular. O Bolsa Família (nascido com FHC e formatado por Lula) é conquista. Não se admite ─ mesmo em nome de um suicídio político ─ um retrocesso.
O que enoja é o uso do programa. A redução de miseráveis a miseráveis dependentes. A obrigação do Estado transformada em benesse partidária. E a falta ─ como em tudo que o PT faz ─ de um planejamento sério e honesto. Qual a porta de saída? Que incentivo se dá para que não se dependa mais de uma renda mínima?
A resposta está no segundo depoimento. O lavrador diz que pode deixar de trabalhar porque ─ mesmo assim ─ poderá formar os filhos.
Formar? Em quê? Em novos dependentes do Bolsa Família? Já não estamos na terceira geração de beneficiários? Avós, mães e filhas?
E um homem em idade produtiva, pequeno sitiante, prefere o não fazer substituído pela esmola. (“Mas, doutô, uma esmola a um homem qui é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”).
É este o legado do Bolsa Família passados dez anos: um número maior de beneficiários. Ou seja, a miséria aumentou.
A sensação de ter saído da pobreza impede que as pessoas tenham consciência de que ela se manifesta nas filas de hospitais, na escola com carteiras improvisadas e telhados de palha, ou na submissão aos desejos e ordens dos poderosos.
Ou seria o que “vicia o cidadão”, como no exemplo de quem desistiu do trabalho?
O mais cruel é o que liga o DIREITO ao FAVOR. Isso faz com que o que nossos impostos sejam usados neste programa (e eu admito que assim seja, em outro formato), como se fosse dádiva de uma camarilha que certamente contribui menos que o brasileiro médio para essa ação assistencial. Eles são especialistas em roubar o que se destina ao programa.
Que fique claro: ninguém é contra o assistencialismo que combate a fome e a miséria.
Os brasileiros com vergonha na cara são contra o uso abjeto da miséria como cerca de um deprimente curral eleitoral. São contra o bando que precisa da perenização da desgraça para tentar manter-se no poder

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