segunda-feira, 16 de julho de 2012

Auditoria em ONG aponta rombo de R$ 7 milhões na Bahia


Contrato seria para levantar 1.120 casas do programa Construindo Dias Melhores
SALVADOR - Notas fiscais falsas no valor de R$ 985 mil, mais R$ 2,7 milhões de despesas em treinamento e capacitação de pessoal não comprovadas e R$ 3,63 milhões sem prestação de contas, somando um total de R$ 7,315 milhões. Este é o rombo encontrado pela Auditoria Geral do Estado (AGE), órgão da Secretaria da Fazenda da Bahia, no convênio de R$ 17,9 milhões assinado em 2008 pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e a ONG Instituto Brasil Preservação Ambiental, que teve as parcelas restantes do contrato suspensas em 2010 pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) a pedido do Ministério Público Estadual. O TCE julga um recurso da entidade visando desbloquear os recursos.
A promotora Rita Tourinho, do MP-BA, está finalizando a investigação e deve denunciar os responsáveis pelas falcatruas à Justiça por improbidade administrativa até o final do mês. Ela informou que foi aberto um inquérito criminal sobre o caso. Depois que o escândalo estourou, há dois anos, a Sedur, comandada na época pelo hoje deputado federal Afonso Florence (PT), ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, determinou a abertura de sindicância para apurar o caso, mas isso só ocorreu em janeiro de 2012. A comissão foi presidida por Armando Cunha. Ele disse que foi feito um “trabalho administrativo interno porque não houve prestação de contas da segunda parcela de verbas liberadas pelo contrato”, mas não quis revelar o conteúdo da conclusão do trabalho.
O contrato, firmado sem licitação, seria para levantar 1.120 casas do programa Construindo Dias Melhores, do governo do Estado, em 18 municípios. As obras, inacabadas, sofrem degradação pelo abandono, conforme constataram os técnicos da AGE. Eles comprovaram que as empresas indicadas nas notas “frias” não existiam ou não confirmaram que o material de construção foi adquirido pela ONG. Além disso, outros R$ 2,7 milhões não tiveram a prestação de serviço indicada efetivamente realizada.
A AGE constatou ainda que os indícios de irregularidades no convênio da Sedur não foram suficientes para a secretaria suspender a liberação da segunda parcela, apesar de as distorções terem sido apontadas pela Conbec Engenharia, empresa terceirizada responsável pelo acompanhamento das obras. O parecer da Sedur foi pela aprovação parcial das contas da primeira parcela. Isso permitiu que fosse liberada a segunda, no valor de R$ 3,63 milhões. Os órgãos fiscalizadores descobriram que o parecer favorável do convênio teria sido assinado por Heloísa Carvalho, diretora de planejamento territorial da Sedur, uma ex-funcionária do Instituto Brasil. Em 2010, por telefone, Heloísa disse à reportagem do jornal A TARDE que emitiu parecer positivo para o instituto “porque era projeto factível de ser executado”. Ela já deixou o cargo na Sedur.
Conforme a AGE, o instituto não recolheu impostos e não apresentou explicação convincente para as irregularidades na prestação de contas na primeira parcela. A coordenadora da AGE, auditora Míriam Guerreiro, lamenta que os prejudicados sejam as pessoas carentes que esperavam as casas não construídas. O relatório da AGE aponta falha de fiscalização no cumprimento do convênio e recomenda que a Sedur contrate outra empresa para concluir as obras para que o prejuízo social não seja maior.
Míriam pondera que não se pode generalizar acusando todas as ONGs de usarem de forma indevida os recursos públicos. “Precisamos aprimorar os controles, mas a parceria com entidades do terceiro setor é fundamental para o Estado, que não pode fazer só todas as obras que a população necessita”, disse.
Na Lei
O ex-ministro Afonso Florence afirmou que o processo “foi feito na forma da lei” e não cabia à Sedur investigar idoneidade fiscal.
- A fiscalização naquilo que compete ao órgão executor é em relação às obras físicas. Identificar se a empresa recolhe impostos não é responsabilidade da secretaria - diz, assegurando que os convênios eram assinados após aval da Procuradoria Geral.
Sobre a servidora que teria dado parecer liberando o convênio, a diretora territorial de planejamento da Sedur e ex-funcionária do Instituto Brasil Preservação Ambiental Heloísa Helena de Carvalho, Florence afirma não ter ligação com a contratação.
- Não a conhecia antes da Sedur, quem a contratou foi a superintendente (de habitação) Liana Viveiros. Quando no meio de superintendentes, eles têm autonomia para compor seus quadros. Ela não foi indicada por ninguém, o critério de escolha não era político, mas técnico.
Florence afirma que não lhe foi imputada nenhuma responsabilidade e que apresentou os documentos devidos quando lhe foi solicitado.
- Nossa posição sempre foi de apurar qualquer indício de irregularidade. Outras dezenas de contratos com ONGs foram firmadas e só foi encontrada irregularidade nesse.
Apesar de declarar à imprensa na época do escândalo que iria instaurar uma sindicância para apurar o caso, hoje o deputado diz não lembrar se protocolou um documento solicitando investigação.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/auditoria-em-ong-aponta-rombo-de-7-milhoes-na-bahia-4833401#ixzz1yVzMDKR0

Cartão de crédito lidera inadimplência

16/07/2012
 
Por Márcia de Chiara, no Estadão:
O cartão de crédito é apontado pelo consumidor brasileiro como o principal meio de pagamento que o levou ao calote. No mês passado, 31% dos inadimplentes indicaram o cartão como o vilão da crise de suas finanças pessoais, revela pesquisa da Boa Vista Serviços, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Em março deste ano, esse indicador para os cartões estava em 29% e, seis meses antes, em 23%.
O resultado de junho para os cartões supera de longe a importância dos carnês e boletos bancários (22%) e dos cheques (24%) como vilões da inadimplência. Em março, o cartão já havia desbancado o carnê e passou a liderar o ranking dos meios de pagamento que levaram o consumidor a engrossar a lista da inadimplência. Especialistas ressaltam que o avanço do uso do cartão sobre outros meios de pagamento e a multiplicação dos plásticos explicam parte do resultado.
Este ano deve fechar com 193,2 milhões de cartões de crédito, segundo projeções da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). A marca supera a população do País que, de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somou 190,7 milhões de pessoas. Significa que todos os brasileiros, do bebê de colo ao idoso, teriam pelo menos um cartão de crédito na carteira.
Se forem considerados os cartões de crédito e os de lojas, o total de plásticos até dezembro deve atingir 462 milhões, o equivalente a 2,4 cartões por pessoa, segundo a Abecs. Levando-se em conta o total de cartões de crédito e de lojas em relação à População Economicamente Ativa (PEA), isto é, aquela em idade produtiva, o número de cartões por brasileiro sobe para 4,4.
Juros. Além da multiplicação dos plásticos, a elevada taxa de juros cobrada pelos cartões joga mais lenha na inadimplência dessa linha de crédito. Dados do Banco Central mostram que o calote do cartão acima de 90 dias atingiu 29,5% em maio, a maior marca em 12 anos. Durante 28 meses seguidos, de fevereiro de 2010 a junho deste ano, a taxa média de juros do cartão ficou estacionada em 10,69% ao mês, revela pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A resistência da taxa de juros do cartão, a mais alta entre as várias linhas de crédito ao consumidor, vai na contramão até da taxa básica de juros, a Selic, que já caiu três pontos porcentuais entre dezembro de 2011 e a semana passada.
“O cartão é o meio de pagamento vilão da inadimplência”, afirma o diretor do SCPC, Fernando Cosenza, responsável pela pesquisa trimestral que consulta 1.100 inadimplentes para traçar seu perfil. Ele ressalta que, na edição de junho, o cartão de crédito foi uma unanimidade entre os consumidores como principal meio de pagamento que levou à inadimplência. Em todos os estratos de renda (alta, média e baixa), entre homens e mulheres e também entre trabalhadores formais e informais.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

Governo incentiva o consumo e o resultado é mais famílias endividadas em 2011

São Paulo - A proporção de famílias endividadas no país cresceu 6,39% entre 2010 e 2011 e passou de 58,58% no fim de 2010 para 62,5% no encerramento do último ano. A informação é da Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que analisou dados de todas as capitais entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011.

No período analisado, o volume da dívida teve um aumento de 11,57% nas capitais, passando de R$ 145,1 bilhões em 2010 para R$ 161,9 bilhões no encerramento de 2011. O valor do último ano equivale a R$ 13,5 bilhões em dívidas por mês.
O rendimento das famílias endividadas no período também aumentou, passando de R$ 491,5 bilhões para R$ 549,2 bilhões, ou R$ 45,8 bilhões por mês. O crescimento de 11,7% no rendimento permitiu que o brasileiro, apesar de endividado, comprometesse parcela ligeiramente menor da renda com dívidas. Na média das capitais, a parcela de renda comprometida passou de 29,53% para 29,49%. De acordo com a FecomercioSP, os economistas mais conservadores consideram saudável ter até um terço da renda comprometida com dívidas.
O levantamento também indicou que o número de famílias inadimplentes foi 2 pontos porcentuais menor, passando para 22,9% do total. Além disso, houve retração no total de famílias que afirmaram não ter condições de pagar as dívidas total ou parcialmente. Em 2011, 8% da população se encontra nessa situação, em dezembro de 2010 essa proporção era de 8,9%.
Capitais - Na cidade de São Paulo, 47% das famílias tinham dívidas em dezembro de 2011. Em números absolutos, a capital paulista é a que tinha maior quantidade de famílias endividadas - mais de 1,6 milhão. No período analisado, de 2010 para 2011, o total de endividados na região recuou 0,27%.
A capital com maior proporção de famílias endividadas é Curitiba (90,3%). O resultado de 2011 é 42,4% superior ao de 2010. O maior aumento na quantidade de famílias com dívidas, contudo, foi registrado em Florianópolis: 88,8% das famílias na capital catarinense estavam endividadas em dezembro de 2011, número 45,6% maior do que o de 2010.
Aracaju encabeça o ranking das capitais que apresentaram recuo no endividamento, com queda de 11,1% no número de famílias com dívidas entre 2010 e 2011. No final de 2011, 75,8% das famílias de Aracaju possuíam dívidas. Em números absolutos, Salvador foi a que registrou maior número de famílias que quitaram dívidas, numa redução de 9,24% do total de endividados, que chegou a 66,2%.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ERA LULA

O acervo de espantos da Era Lula inclui um presidente que não sabe escrever e nunca leu um livro, uma presidente incapaz de dizer coisa com coisa, um senador que revogou o irrevogável, um ministro da Fazenda especializado em estupro de contas bancárias e consultorias cafajestes, um trem-bala que só apita no PAC, um ministro da Indústria com dois ou três conselhos levou à falência uma fábrica de tubaína, um ministro da Pesca que não sabe colocar minhoca em anzol, um ministro da Educação que acha certo falar errado, um advogado que virou ministro do STF depois de reprovado em dois concursos para o ingresso na magistratura e, entre tantas outras esquisitices, a única central sindical do mundo que se proclama única embora existam mais cinco.
Por: Augusto Nunes.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

‘Custo Lula’, por Carlos Alberto Sardenberg


PUBLICADO NO GLOBO DESTA QUINTA-FEIRA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a Petrobrás não queria construir refinarias e ainda apresentara um plano pífio de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa, contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo.
Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim, com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster, acrescentando que faria uma revisão de processos e métodos. Entre outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos projetos estarem prontos e aprovados.
Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à meta anterior, e custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora revistas já haviam sido alteradas. O equívoco é muito maior.
Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa como a Petrobrás pode cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a estatal não tinha projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os presidentes fizeram várias inaugurações.
O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor privado, de responsabilidade do ex-presidente e da diretoria que topou a montagem.
Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu prejuízo de mais de bilhão de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja, um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio Lula explicou: “Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação”.
Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro compromisso com o nacionalismo.
A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria quebrada ou perto disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige muita energia elétrica, que continua a mais cara do mundo.
Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula estava errado. As empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram.
Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para seu corpo técnico.
Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As obras de transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas e muito mais caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10 bilhões e já passa dos 35 bi.
Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás, é urgente uma análise de todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto, político. A presidente Dilma estava no governo Lula, em posições de mando na área da Petrobrás. Graça Foster era diretoria da estatal. Não é possível imaginar que Graça Foster tenha feito essa incrível autocrítica sem autorização de Dilma.
Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou sabiam perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar diante da força e do autoritarismo de Lula?
De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se imaginava. Inclusive na política.
Por: Augusto Nunes.

A Comissão da Verdade tropeçou num terrorista aposentado que acaba de se transformar em assassino confesso de um companheiro de luta contra a ditadura

03/07/2012
às 1:11 \ Direto ao Ponto

Márcio Leite de Toledo tinha 19 anos quando foi enviado a Cuba pela Aliança Libertadora Nacional, para fazer um curso de guerrilha. De volta ao Brasil em 1970, tinha 20 quando se tornou e um dos cinco integrantes da Coordenação Nacional da ALN, organização de extrema-esquerda fundada pelo terrorista Carlos Marighela. Então com 19 anos, fazia parte do quinteto o militante comunista Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o “Clemente”. Da mesma forma que o Paz da certidão de nascimento, o codinome contrastava com o temperamento e o prontuário de um devoto da violência.
Em outubro de 1970, durante uma reunião clandestina, os componentes da Coordenação Nacional debateram as circunstâncias do assassinato de Joaquim Câmara Ferreira, que havia 11 meses substituíra o chefe supremo Marighela, fuzilado numa rua de São Paulo por uma milícia liderada pelo delegado Sérgio Fleury. Sob o argumento de que estavam percorrendo o caminho mais curto para a eliminação física dos engajados na luta armada, Márcio propôs aos demais dirigentes uma pausa na guerra desigual.
Não era a primeira vez que aquele companheiro desafinava do restante da direção, desconfiou  Clemente. Demorou duas horas para concluir que Márcio era um dissidente prestes a traí-los, entregar-se à polícia da ditadura e contar o muito que sabia. Demorou dois dias para convencer o restante da cúpula a avalizar seu parecer. Demorou um pouco mais para, com o endosso dos parceiros, montar o tribunal revolucionário, propor a pena capital e aprovar a sentença que, já com 20 anos,  ajudou a executar numa rua de São Paulo.
Convocado para uma reunião de rotina do alto comando, Márcio foi para o encontro com a morte no fim da tarde de 23 de março de 1971. Antes de sair do apartamento que lhe servia de esconderijo, o condenado que não tivera o direito de defender-se e sequer suspeitava da tocaia deixou um registro manuscrito: “Nada me impedirá de continuar combatendo”, prometeu-se. Não imaginava que fora proibido de continuar vivendo. Assim que chegou ao ponto combinado na região dos Jardins, foi abatido a tiros.
Alguns foram disparados por Clemente, acaba de admitir o terrorista aposentado ao jornalista Geneton Moraes Neto, que o entrevistou para o programa Dossiê, exibido pela Globo News neste 30 de junho. O vídeo abaixo reproduz o trecho da entrevista em que o depoente se transforma oficialmente em assassino confesso. “Então nós fomos lá e cumprimos a tarefa”, diz Clemente depois de resumir a decisão do tribunal revolucionário composto por três juízes com pouco mais de 20 anos de idade. “Cumprir a tarefa” é bem menos chocante que “executar um companheiro de luta contra a ditadura”.
Entrevistador competente, Geneton vai direto ao ponto: “Você participou diretamente da execução, então?” Com a placidez de quem recita uma receita de bolo, Clemente enfim assume a autoria do crime. “Essa é uma informação que até hoje eu não dei”, avisa. “E, na verdade verdadeira, eu não dei também porque ninguém teve essa atitude de chegar e me perguntar diretamente. Participei, sim, da ação. A tiros… a tiros…” A expressão sem culpas e o olhar de quem não perde o sono por pouca coisa informam que, para o declarante, tirar ou não a vida de um ser humano é algo que merece tanta reflexão quanto ir à praia ou ficar na piscina do prédio.
Alguns integrantes da Comissão da Verdade dividem o universo que resolveram devassar em torturadores a serviço da ditadura e heróis da resistência. Uns merecem o fogo do inferno, outros só merecem a gratidão do país (e desfrutar de uma Bolsa Ditadura de bom tamanho). Em qual dessas categorias devem ser enquadrados Carlos Engênio Coelho Sarmento da Paz e Márcio Leite de Toledo? O algoz pode alegar que a execução de um dissidente que também combatia a ditadura militar foi um acidente de percurso? Essa espécie de homicídio foi engavetada pela anistia? A família da vítima de um crime que o Estado não cometeu pode figurar na relação dos indenizados? Como reparar a memória do jovem executado? A Comissão da Verdade está convidada a oferecer respostas convincentes para tais interrogações.
Bem menos complicado é responder à pergunta feita por Clemente em novembro de 2008, quando voltei a tratar do episódio infame: “O que quer o jornalista Augusto Nunes quando publica um artigo como este?”. Simples: quero deixar claro que não há nenhuma diferença entre o torturador que matou Vladimir Herzog e o terrorista que executou Márcio Leite de Toledo. Um a serviço da ditadura militar, outro a serviço da ditadura comunista, ambos são assassinos sem direito ao perdão.
 Copie e cole a URL no seu  navegador.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=o-LPZJ1d4uk

Por : Augusto Nunes.

A foto do beija-mão ajudou a Interpol

Já não se fazem cavalheiros dessa estirpe, murmura a expressão de Dilma Rousseff enquanto contempla o homem que se inclina para beijar a mão que a dele já capturou. No rosto da mulher que se derrete com tanta gentileza, não há vestígios da rabugenta vocacional. A carranca armada ainda no berço foi provisoriamente demitida para abrir espaço a sinais emitidos por corações em descompasso.
Os olhos estão semicerrados. Os lábios se comprimem como se ensaiassem um selinho. O queixo que se projeta para acompanhar de perto o suave encontro da boca do gentleman de filme antigo com a pele de uma dama adestrada em colégio de freiras. Tanta doçura torna quase irreconhecível a mulher fotografada de frente. O homem fotografado por trás, e só do pescoço para cima, esse todos sabem quem é: Paulo Maluf, claro.
A festinha no jardim da mansão anunciou que Maluf é o mais recente amigo de infância de Lula. O beijo na mão acaba de avisar que o antigo satã do PT sente pela afilhada o mesmo afeto desinteressado que devota ao padrinho. Fernando Haddad, beneficiário da aliança pornográfica com o chefão do PP (e dono de cobiçadíssimos 95 segundos no horário eleitoral gratuito), merecia um lugar nessa foto.
Foi o candidato a prefeito que Lula escolheu quem explicou que o novo e o velho resolveram acasalar-se depois de descobrirem que são muitas e relevantes as afinidades ideológicas. “É natural que os partidos que apoiam o projeto do governo estejam comigo”, recitou Haddad. Por enquanto, Maluf nem perguntou que projeto é esse. Para fechar negócio com o PT, bastou-lhe saber o tamanho do cofre da secretaria do Ministério das Cidades que ganhou de presente.
Para azar do cavalheiresco aliado, a cena do beija-mão embutiu uma informação sempre útil a quem espreita gente procurada pela Interpol. Neste momento, cópias da foto já estão nas mãos de todos os agentes espalhados pelos 180 países prontos para extraditar para os Estados Unidos o brasileiro caçado pela Justiça americana. A polícia internacional sabe faz tempo como Maluf é de frente e de perfil. Agora também já sabe como é Maluf por trás,
Por: Augusto Nunes.

Três anos depois de logrados por Lula, vítimas do golpe da pedra fundamental apresentam a Dilma a conta do embuste

06/07/2012
às 0:01 \ Direto ao Ponto

O site de VEJA informa que nesta quinta-feira, durante a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento em São Bernardo, Dilma Rousseff topou com um ato de protesto promovido por estudantes, servidores e professores da Universidade Federal do ABC, paralisada há 50 dias pela greve das universidades federais. Vestindo camisetas pretas, os manifestantes pioraram o dia da presidente com vaias, cartazes hostis e reivindicações repetidas aos berros. “Dilma, a culpa é sua, a minha aula é na rua”, ouviu a visitante. “Dilma, queremos negociação”, avisou a inscrição num cartaz. “Pronto Atendimento para a Educação”, exigiu outro.
Se a primeira vaia ninguém esquece, Dilma não esquece também a segunda, a terceira e as demais.  Vem aí uma procissão de pitos, sabe quem convive com a zangada profissional. Vai sobrar, por exemplo, para os comerciantes de estatísticas. Se a pesquisa do Ibope acabou de informar que a presidente é mais popular que Lula, mais admirada que atriz de novela da Globo, mas respeitada que Madre Tereza de Calcutá, como explicar os apupos endereçados a essa quase unanimidade nacional? É o que Dilma vai querer saber.
Também vai sobrar para Aloízio Mercadante e Miriam Belchior. Se o ministro da Educação e a ministra do Planejamento vivem jurando que os entendimentos avançam satisfatoriamente, de que esconderijo no ABC saiu aquele bando de descontentes? O Herói da Rendição que comece a preparar mais uma capitulação desonrosa. A viúva que não chorou a morte de Celso Daniel que capriche no álibi.
Como o País do Carnaval já não sabe a distinção entre fato e fantasia, só não está sujeito a pitos o casal que pariu e amamentou o descontentamento traduzido pela manifestação de protesto: Lula e Dilma. Em parceria com a Mãe do PAC, o Pai do Brasil Maravilha passou anos tapeando os brasileiros com promessas que nunca desceram do palanque.
Para eleger a afilhada, o padrinho fabricou outra brasileirice cafajeste: a inauguração de pedra fundamental. Como informam o texto e a foto publicados em 21 de fevereiro de 2010, Lula valeu-se desse truque para dar por concluído campus de São Bernardo da Universidade Federal do ABC ─ mais uma obra imaginária do PAC.
Revejam a foto que documenta a inauguração do nada e leiam o texto, reproduzido em itálico e sem retoques. Volto no fim.
pedra-fundamental
“E pasmem para uma coisa que é importante”, gabou-se Lula no comício de todo santo dia. “Eu, torneiro mecânico, já sou o presidente da República que mais fez universidades neste país”. Jura que construíra 13. Para chegar a esse número, incluiu, por exemplo, o campus de São Bernardo do Campo da Universidade Federal do ABC, inaugurado em 25 de agosto de 2009. A imagem que ilustra este post registra o momento da inauguração. Não parece, mas Lula garante que há uma universidade na fotografia.
No dia da festa, o maior governante desde Tomé de Sousa irrompeu no berço político ao lado da primeira-dama e escoltado pela procissão de ministros. Na discurseira para a plateia reunida num auditório, contou que erigira aquele templo do conhecimento por temer a ciumeira de Marisa Letícia, que exigiu para a cidade natal uma universidade igualzinha à de Garanhuns. Atribuiu o ligeiro atraso das obras ao Tribunal de Contas da União. Avisou que o campus começaria com 500 alunos, chegaria a 15 mil até o fim do governo e logo se tornaria mundialmente conhecido como um viveiro de gênios da engenharia.
Encerrado o palavrório, foi visitar a maravilha — sem plateias por perto. A foto congela o instante histórico. Aplaudido pela primeira-dama, pelo prefeito Luiz Marinho e pelo vice-prefeito Frank Aguiar, o Primeiro Companheiro não descerra nenhuma placa. Apenas movimenta uma pá. Como o monumento ao saber só fora erguido no palanque, o JK de chanchada inaugurou uma pedra fundamental. E deu por inaugurada outra universidade federal.
Passados quase três anos, a recepção oferecida à comitiva de Dilma adverte: as vítimas das vigarices  começam a abrir os olhos. Nesta quinta-feira, os manifestantes de São Bernardo reafirmaram que nenhum bando de farsantes engana todo mundo o tempo todo. Induzidos desde 2009 a enxergar um campus imaginário, alguns ludibriados enfim enxergaram o tamanho do embuste. Ainda não são muitos. Mas há pouco parecia não haver nenhum.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A oposição oficial insiste em esconder dos milhões de brasileiros desinformados a história do plano que acabou com a inflação

04/07/2012
às 16:47 \ Direto ao Ponto

O 18° aniversário do Plano Real, ocorrido neste domingo, não animou a oposição oficial a soltar um único rojão, um só buscapé , sequer um traque de festa junina. A chegada à maioridade da ousadia econômica que domou a inflação só serviu para reafirmar que Fernando Henrique Cardoso, o grande protagonista da façanha, foi vítima de outra molecagem consumada em parceria por adversários boçais e aliados bisonhos.
O governo Dilma-Lula fingiu esquecer a data para que o país nem lembrasse as cafajestagens promovidas pelo PT para enterrar o Real. A oposição oficial só esqueceu outra vez o que jamais valorizou. Se os herdeiros presuntivos do legado de FHC fossem menos idiotas, usariam repetidamente a TV para contar, no horário eleitoral e no espaço reservado aos partidos, a história que milhões esqueceram e outros tantos ignoram.
Os incontáveis brasileiros que hoje tem 30 anos ou menos tinham no máximo 12 em 1° de julho de 1994, quando o Plano Real nasceu. Não são muitos os que sabem o que efetivamente aconteceu, como aconteceu, quem fez acontecer e quem procurou impedir que acontecesse. Como atestam os textos e ilustrações que se seguem, não seria difícil contar o caso como o caso foi.
Em 28 de fevereiro de 1986, acuado pela escalada da inflação, o governo do presidente José Sarney não se limitou a cortar três zeros do cruzeiro, como fizeram vários antecessores. Também aposentou a velha moeda e criou o cruzado.

Três anos depois, ainda no governo Sarney, novamente sumiram três zeros e o cruzado foi substituído pelo cruzado novo.

Em 1990, dois meses depois da posse, o presidente Fernando Collor repetiu o truque: matou o cruzado novo e ressuscitou o cruzeiro ─ com três zeros a menos.

Em agosto de 1993, já com Itamar Franco no lugar de Collor, o governo amputou três zeros do cruzeiro e criou o cruzeiro real.

Em 1° de julho de 1994, último ano do governo Itamar, o real nasceu no bojo do plano com o mesmo nome concebido por uma equipe de economistas comandada por Fernando Henrique Cardoso, nomeado ministro da Fazenda em maio do ano anterior. Passados 18 anos, a moeda continua  exibindo a excelente saúde que faltou às versões anteriores, todas fulminadas pela inflação descontrolada.
Instados a lidar com a maldição cinquentenária, Itamar Franco e FHC dispensaram-se de lamúrias, enfrentaram sem hesitações o inimigo aparentemente invencível e enjaularam a inflação que parecia indomável. Herdeiro de um país financeiramente estabilizado, Lula foi o único presidente, além do antecessor, que não precisou encomendar à Casa da Moeda cédulas com outro nome, zeros a menos ou zeros a mais. Desde 1994, da menor fração em centavos à cédula de 100 reais, nada mudou.
“Recebi um país em péssima situação”, mentiu Lula durante oito anos. “Nós assumimos um país com a inflação descontrolada”, continua mentindo Dilma Rousseff. A permanência, a longevidade e a solidez da moeda são a prova mais contundente de que Lula, beneficiário da herança bendita, tratou a verdade a pontapés para expropriar de FHC a paternidade do histórico ponto de inflexão. O colecionador de fraudes e falácias faz de conta que foi ele que livrou o Brasil do convívio com a inflação mensal acima de dois dígitos.
Em nações mais altivas, pais-da-pátria que assassinam a verdade em público se arriscam a ter a discurseira interrompida por chuvas de dinheiro metálico. Graças a FHC, Lula e Dilma seguem desfiando lorotas sem se expor a tal perigo: desde 1994, ninguém joga fora sequer moedas de 5 centavos. A dupla que inventou o Brasil Maravilha adoraria assumir a paternidade do Plano Real. A família que participou dos trabalhos de parto finge que mal reconhece a criatura admirável.
A performance dos candidatos do PSDB nas campanhas presidenciais de 2002, 2006 e 2010 grita que a oposição oficial ainda não enxergou com nitidez a importância histórica do Plano Real. O que não houve neste 1° de julho avisa que nunca enxergará.