“O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo”, fantasia Lula no começo do vídeo de 1min19 que reproduz um dos melhores-piores momentos do discurso de posse, lido no Congresso em 1° de janeiro de 2003. Segundos depois, o orador promete acabar com a “cultura da impunidade”. A turma que lota o plenário da Casa dos Horrores aplaude de pé. Com um sorriso de Mona Lisa que não ensaiou, Marisa Letícia bate palmas. Hasteado atrás da primeira-dama, Antonio Palocci sublinha os aplausos com o rosto sério de quem jamais estupraria o sigilo bancário de um caseiro nem derraparia no tráfico de influência. Segue o palavrório. A câmera volta a passear por Marisa Letícia e Palocci enquanto o presidente parte para a citação da frase que José Dirceu repetia de meia em meia hora antes que se descobrisse tudo: “Ser honesto é mais que apenas não robá e não deixá robá”, ensina. É preciso também “aplicar os recursos públicos com transparência”.
Nomeado para chefiar a Casa Civil, Dirceu virou chefe de quadrilha e aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal. Depois do guerrilheiro de araque, Lula instalou no quarto andar do Planalto a afilhada Dilma Rousseff, que aumentou a produção da fábrica de dossiês, e Erenice Guerra, quadrilheira que fundou a Casa Vil ─ desmoralizada de por Palocci, o reincidente que já escapou duas vezes da cadeia. O inventor do Brasil Maravilha também ornamentou o primeiro escalão com um buquê de prontuários que incluiu Carlos Lupi, Silas Rondeau, Edison Lobão, Humberto Costa, Walfrido dos Mares Guia, Anderson Adauto, Benedita da Silva, Alfredo Nascimento, Wagner Queiroz, Wagner Rossi, Orlando Silva e Saraiva Felipe, fora o resto.
Discursos de posse costumam ser incorporados ao acervo do Museu da República. Revisitado nove anos depois, o trecho do falatório capturado pelo vídeo implora pela transferência para o Museu da Era da Mediocridade ─ mais precisamente para a ala do cinismo, onde poderá descansar ao lado de outras abjeções produzidas pelo sumiço da vergonha. Seis meses antes de 1° de janeiro de 2003, o Padroeiro dos Pecadores havia inaugurado o esquema do mensalão na reunião clandestina em ficou acertada a entrega de R$ 4 milhões ao PL de Valdemar Costa Neto, vulgo Boy. Participaram do encontro que fixou o preço do apoio ao candidato do PT o próprio Lula, José Alencar, José Dirceu e Boy.
No dia em que o novo presidente prometeu combater os corruptos, estava tudo pronto para a institucionalização da roubalheira impune.
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