terça-feira, 26 de março de 2013

O QUARTO SEGREDO DE DILMA


CELSO ARNALDO ARAÚJO
Três anos de dilmês intensivo – em carga horária que me credenciaria a um pós-doutorado no estudo desse dialeto – e ainda estremeço ao ouvir Dilma. A reprodução que ela fez do diálogo privativo com o Papa Francisco, na coletiva depois do encontro, beira a insanidade narrativa — como o Augusto demonstrou magistralmente em post anterior. Não importa o que ele efetivamente disse a ela — certamente num português mais escorreito que o da presidente do Brasil — ou o que ela tentou dizer a ele, em dilmunhol. O grande problema é o que ela disse que ele teria dito. Não bastando dizer o que diz, Dilma ainda põe palavras suas nos lábios dos outros – e justo do papa!
Ao transcrever a conversa — que heresia — Dilma fez o novo papa falar dilmês: “Ele estava me dizeno que ele espera uma presença grande dos jovens na medida em que ele é o primeiro papa, ele é várias coisas primeiro”.
Em dilmês é assim: a conversa já tinha acabado, Dilma dava entrevista à imprensa, mas o papa ainda estava dizendo alguma coisa lá dentro. Deve ter ficado falando sozinho. E, segundo Dilma, além de sua beatitude natural, o papa tem também uma imensa platitude – a ponto de afirmar que espera grande presença de jovens numa jornada mundial de jovens. Francisco, que é “várias coisas primeiro”, é também o primeiro papa a se tornar ventríloquo de Dilma Rousseff.
Se o papa falasse como Dilma o transcreve, Jorge Mario Bergoglio não seria sacristão da capelinha da Villa 31, o bairro mais pobre de Buenos Aires. Ela empobrece e vulgariza tudo o que passa por sua fala – dos sentimentos mais nobres a uma receita de omelete. Dilma, que se diz economista e só não é doutora porque descobriram que não era, é a única usuária desse estranho patois que é o dilmês – expressão verbal que parece não ter passado por um processo completo de aquisição da linguagem. Imagine qualquer brasileiro presente na Praça de São Pedro no dia da entronização descrevendo uma hipotética conversa com o papa — nenhum diria as coisas que Dilma disse, como disse.
Assista ao vídeo de novo: a senhora que fala baixinho, dizendo em voz beatífica as maiores bobagens para soar como uma chefe de governo sintonizada espiritualmente com o pontificado de Francisco, parece uma estadista? Só se for pela pompa e pela circunstância de sua comitiva pagã – donos de agências de turismo calculam em 500 mil dólares, no mínimo, fora a parte aérea, os gastos com o beija-mão papal em Roma. Dilma não mediu custos. Foram 52 suítes no The Westin Excelsior e não se fala mais nisso. É aquela história – país rico é pais sem pobreza.
Mas não foi, em absoluto, uma viagem perdida. Na conversa com o papa, a presidente teve uma visão extraordinária, dela extraindo os Três Segredos de Dilma, a saber:
1. O papa é muito normal
2. O papa é muito modesto
3. O papa é muito importante para o momento em que vivemos
Este terceiro segredo de Dilma, como o terceiro de Fátima, ainda tem uma aura de mistério: queria ela referir-se, como mandaria a lógica, ao “momento que vivemos”, indicando uma quadra específica da vida humana na Terra; ou, como de fato disse, ao “momento em que vivemos”, o qual situa os sete bilhões de seres viventes da Terra em torno da descoberta de que estamos todos vivos, e ao mesmo tempo?
Mas há um quarto segredo, esse ainda insondável – quando for enfim revelado, virá à tona, em seus bastidores espantosos, o maior escândalo da história da República. Sempre que abre a boca, não importa o assunto, Dilma Rousseff passa a impressão de ser alguém que chegou à Presidência por um terrível engano. Os auxiliares mais próximos descobriram isso faz tempo. Não são burros — longe disso. Quando constataram o erro de pessoa, no dia mesmo em que Dilma começou a falar, ainda na pré-campanha (“Pra mim sê pré”), temeram pelo pior, temeram pelo fim do lulopetismo e das lulomamatas, com a derrota nas urnas. Mas, como nada se contrapunha ao notório engano, nem da parte da oposição nem por iniciativa da mídia, a turma relaxou e a farsa acabou vingando.
A presidente revelou-se logo tão ou mais desastrosa que a candidata, mas, de novo sem contestação, as forças que colocaram Dilma na Presidência assumiram Dilma como ela é. Atualmente, o Portal do Planalto transcreve suas falas na íntegra, sem pentear um anacoluto ou disfarçar uma verruga sintática. São peças históricas – pela ousadia e pelo deboche.
Porque simplesmente não é possível, não é normal, não é aceitável que uma pessoa investida da condição de presidente da República tenha essa dificuldade patológica de expressar uma ideia, um conceito, uma opinião, uma analogia, um sentimento, uma sensação… uma conversa amena, descontraída e privilegiada com um papa que faz questão de deixar tudo e todos muito à vontade.
O que leva alguém a supor que uma pessoa com esse nível de estrato verbal tenha competência para ser presidente da República? Que entenda e processe convenientemente, por meio de argumentos bem articulados, sem platitudes contraproducentes ou pastiches de clichês, a miríade de temas nacionais que mobiliza um presidente da República?
O quarto segredo de Dilma ainda está longe, muito longe, de ser desvendado – haja vista sua extraordinária popularidade e a certeza quase estatística de que será reeleita no primeiro turno de 2014.
Será que o Papa Francisco já está habilitado a desfazer milagres?

‘Rápidos no gatilho’, por Dora Kramer



PUBLICADO NO ESTADÃO


DORA KRAMER
A desfaçatez anda de tal forma despudorada que a Câmara nem esperou esfriarem os corpos dos recentemente extintos dois salários extras por ano, para torná-los cadáveres insepultos na forma de aumento de verbas compensatórias à “perda” de suas excelências.
Há dois tipos de contas a serem feitas: uma é numérica, a outra política. A Câmara fica devendo nas duas.
Com a primeira promete uma economia de R$ 27,4 milhões deixando de pagar os salários adicionais, mas vai gastar quase tudo (R$ 21 milhões) só com o reajuste daquela cota para despesas extraordinárias que não raro é usada para gastos ordinários – no sentido pejorativo do termo.
Isso sem falar na criação de novos cargos (59), duas novas estruturas (Corregedoria Autônoma e Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Casa). A título de verniz, criou-se um tipo de ponto para controlar melhor o pagamento de horas extras dos funcionários do Legislativo.
Positivo? Sem dúvida, mas risível e até provocativo o aperto em face do afrouxamento na rubrica das benesses aos parlamentares que, segundo pesquisa recente, estão em segundo lugar entre os mais caros do mundo.
Mas dizíamos que há uma conta numérica e outra política. Nesta também o saldo é negativo. Confirmou-se a necessidade de adotar parcimônia em elogios quando o Congresso se curva à necessidade de dar cabo a exorbitâncias. Viu-se pela rapidez no gatilho para anular a economia e criação de duas esquisitices.
“Corregedoria Autônoma”? Alto lá: há uma corregedoria em funcionamento e que, pelo visto, foi posta sob desconfiança de atuar sem a necessária independência.
“Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Casa”? Espera aí: não seria o Parlamento já um centro de estudos e debates? Não são o estudo e o debate funções do Legislativo junto coma prerrogativa de legislar e fiscalizar?
Ou bem estão sendo criadas instâncias inúteis, ao molde de sinecuras, ou mal estão sendo criadas instâncias com sobreposições de funções. Ao molde de sinecuras.

O CASO ROSE


Desde 23 de novembro de 2012 Lula ainda não disse nada sobre o caso Rose, que já completou 123 dias.

sábado, 2 de março de 2013

Cabeça erguida

02/03/2012

“Se alguém quer andar de cabeça baixa, por favor, procure outro partido. Todos nós achamos que o PT tem defeito, mas o dia que vocês conhecerem a política aí fora vocês vão dizer, poxa vida, esse partido é do cacique”.

Lula, nesta quinta-feira, durante a discurseira no Ceará, ensinando que mesmo os mensaleiros condenados à gaiola devem orgulhar-se do prontuário e circular no pátio da cadeia de cabeça erguida.

Herança maldita – Petrobras já perdeu em 2013 mais que em todo 2012

01/03/2013
às 20:25

Por Eulina Oliveira, no Estadão Online:
Petrobras perdeu R$ 53,9 bilhões em valor de mercado somente em 2013, até ontem, 28 de fevereiro, segundo cálculos da consultoria Economatica. O montante é maior que o verificado em todo o ano de 2012, de R$ 36,7 bilhões. Segundo a consultoria, o recuo no primeiro bimestre deste ano é o terceiro maior da história da empresa, fazendo-se a comparação com os resultados anuais fechados. A maior queda de valor de mercado da Petrobras aconteceu em 2008, quando a companhia perdeu R$ 205,9 bilhões. Em 2011, a perda foi de R$ 88,683 bilhões.
Desde o fim de 2010, a estatal perdeu R$ 179,3 bilhões de valor de mercado – passou de R$ 380,2 bilhões para R$ 200,9 bilhões no último dia 28 de fevereiro. No mesmo período, outra blue chip, a Vale, perdeu R$ 82,6 bilhões, passando de R$ 275,0 bilhões em dezembro de 2010 para R$ 192,3 bilhões no fim de fevereiro de 2013. Nos dois primeiros meses deste ano, a Vale perdeu R$ 22,772 bilhões em valor de mercado, ante ganho de R$ 17,164 bilhões em todo o ano de 2012. O levantamento da Economatica mostra também que, atualmente, a Petrobras é a segunda maior empresa em valor de mercado do Brasil, atrás da Ambev (R$ 274 bilhões). A diferença para a terceira colocada, a Vale, é de apenas R$ 8,6 bilhões, ou 4,4%.
Por Reinaldo Azevedo